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Abaixo as diferenças

Texto: Patrícia Affonso Publicado em 17/04/2017, às 13h11 - Atualizado em 22/08/2019, às 01h40

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Abaixo as diferenças - Shutterstock
Abaixo as diferenças - Shutterstock
Você é feminista? A pergunta é bastante objetiva, no entanto nem sempre a resposta chega sem hesitação. Você já deve ter até visto por aí muitas mulheres — incluindo algumas famosas — tentando sair pela tangente e se intitulando não feminista, e sim humanista. Ok, a liberdade está aí para ser exercida, mas será que estamos todas alinhadas pra valer com o que prega o movimento? “Acredito que boa parte dessa negativa seja consequência da falta de informação sobre o que é o feminismo. Soma-se a isso a desinformação consistente dos meios de comunicação, que tendem a deturpar nossas ideias e demandas, ou ainda fazer humor a partir delas”, opina Rachel Moreno (SP), psicóloga e feminista. Por isso, vamos esclarecer as coisas: em resumo, trata-se de um movimento por direitos iguais para homens e mulheres. “Ele surgiu porque a legislação do século XIX tratava os sexos de forma diferente. As mulheres eram obrigatoriamente submetidas aos homens de sua família e não tinham uma série de direitos, como o acesso à educação e ao mercado de trabalho, ao voto, às garantias trabalhistas, ao recebimento de herança, ao divórcio, à guarda dos filhos... O movimento feminista questionou essas leis e foi, pouco a pouco, exigindo mudanças para emancipar o gênero feminino e igualar direitos e oportunidades”, explica Cynthia Semíramis (MG), pesquisadora da história dos direitos das mulheres. 

Entenda: se hoje podemos escolher quando e com quem vamos nos casar é porque no passado mulheres se indignaram com a inexistência desse privilégio e brigaram por ele. Se podemos exercer uma carreira e ganhar o nosso próprio dinheiro — quase 40% das mulheres são chefes de família no país — é porque alguém resolveu questionar o padrão retrógrado de que a mulher não podia ser nada além de administradora do lar. Confesse, amiga: não dá para ignorar o peso dessas conquistas na vida da gente. E, se você duvida, vale bater um papo com quem teve tais direitos negados. Não precisa ir muito longe: uma avó, tia ou até a sua mãe devem ter relatos interessantes sobre o tema.

O mote é a igualdade 

A primeira grande confusão pode ocorrer devido ao nome dado ao movimento. Muitas pessoas entendem que o feminismo segue a mesma linha que o machismo, mas pendendo para o nosso lado. Um engano. “O machismo acredita que homens são diferentes e melhores do que as mulheres. O feminismo, não. Acreditamos que somos iguais, portanto devemos ser tratadas igualmente. Queremos a liberdade que os homens possuem, mas não queremos que eles deixem de ter liberdade”, esclarece a publicitária Maria Guimarães (SP), integrante do coletivo 65 | 10, que repensa a publicidade para mulheres, tanto dentro das agências quanto nas campanhas. Maria ainda explica que o movimento que nos coloca em posição de superioridade se comparado à classe masculina tem outro nome: é o femismo. Portanto, não confunda!

LUTAS ATUAIS

Já caminhamos muito, é verdade. Mas ainda há um monte de coisas para conquistar. Conheça algumas das reivindicações do feminismo para os dias de hoje.

DIREITOS REPRODUTIVOS
Segundo Cynthia, existem muitas iniciativas em andamento que visam vedar o fornecimento de contraceptivos e negar à mulher qualquer possibilidade de interrupção de gravidez. “Isso implica projetos de lei que não permitirão aborto nem nos casos já previstos na lei, como o estupro ou o risco de morte da gestante. Trata-se de um retrocesso em relação aos direitos atuais, o que é bastante prejudicial para as mulheres”, explica a pesquisadora. 

POLÍTICAS PÚBLICAS QUE DÃO SUPORTE À ALA FEMININA
No país não existem creches públicas sufi cientes, tampouco horários adequados para nossas crianças. E o que isso tem a ver com o feminismo? “Dessa forma, o acesso das mulheres — que ainda são as principais responsáveis pelo cuidado com as crianças — ao mercado de trabalho é dificultado”, explica Cynthia. 

EXTINÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E DO FEMINICÍDIO
Dados da Fundação Perseu Abramo apontam que cinco mulheres são agredidas a cada dois minutos no Brasil. Mais: a cada uma hora e meia uma mulher é morta por um homem pelo simples fato de ser do sexo feminino e 89% das vítimas de violência sexual são do sexo feminino. Os números são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). 

FIM DA DIFERENÇA SALARIAL E MAIS OPORTUNIDADES EM CARGOS ALTOS
O Brasil apresenta um dos maiores níveis de disparidade salarial do mundo. Aqui, os homens ganham aproximadamente 30% a mais que as mulheres de mesma idade e nível de instrução, de acordo com um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Injusto, não é mesmo? Isso sem falar que um levantamento realizado pela Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) com as grandes empresas locais mostrou que as mulheres ocupam menos de 8% dos cargos de direção na iniciativa privada no Brasil.

JUNTAS SOMOS MAIS FORTES 

Sororidade: você certamente vai se deparar com essa palavra (se é que já não aconteceu) quando estiver lendo sobre o feminismo. Mas, afinal, o que significa e tem a ver com o movimento? “Sororidade é um sentimento de empatia e união entre mulheres, muito baseado no companheirismo e no apoio que podemos dar umas às outras”, explica Maria. As estudiosas do tema afirmam que desde cedo somos educadas a agir com desconfiança e até competitividade diante das outras mulheres. A explicação? Fica mais fácil dominar (e até manipular) um grupo desunido. A sororidade propõe o movimento inverso. “Para o feminismo isso é essencial, porque permite que a gente possa apoiar a decisão de toda e qualquer mulher, mesmo que não seja a que tomaríamos”, revela. Temos tantas questões, lutas e problemas similares, que nada mais sensato do que nos abraçarmos!

O PAPEL DELES

E os homens, também podem ser feministas? Bom, as opiniões se dividem. “Existe uma longa discussão dentro do próprio feminismo sobre homens usarem a palavra feminista para se dizerem colaboradores do nosso movimento. No entanto, eles podem, sim, acreditar em nossa luta e apoiá-la”, diz Maria Guimarães. Inclusive, é esse o propósito do movimento internacional HeForShe (Eles por Elas), criado pela ONU Mulheres, que convoca a classe masculina a se identificar com as questões da igualdade de gênero, reconhecendo o papel fundamental que eles podem desempenhar para acabar com a desigualdade enfrentada por mulheres e meninas em todo o mundo, em sua própria vida e também em níveis mais estruturais em suas comunidades. Mas vale lembrar que esse trabalho começa dentro de casa, na criação dos nossos meninos. Se eles entenderem desde cedo que são nossos semelhantes e, por isso, devem dividir as tarefas domésticas, repreender condutas e comportamentos machistas do seu grupo de amigos e repensar o masculino — que hoje ainda está muito ligado à agressividade e à dominação —, a caminhada tende a ficar muito mais fácil.