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Artista plástica fala sobre luta contra o machismo e batalha por mais espaço feminino no mundo da arte

Kalina Juzwiak, mais conhecida como Kaju, bateu um papo exclusivo com a Máxima Digital e comentou sobre as barreiras diárias impostas pela sociedade

Gabriele Salyna Publicado em 27/09/2021, às 11h40

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Artista plástica fala sobre luta contra o machismo e batalha por mais espaço feminino no mundo da arte - Divulgação
Artista plástica fala sobre luta contra o machismo e batalha por mais espaço feminino no mundo da arte - Divulgação

Kalina Juzwiak, mais conhecida como Kaju, é uma artista plástica renomada no universo das artes. 

Com quase dez anos de carreira, ela apresenta trabalhos para expressar seus pensamentos, sentimentos e visão de mundo, se destacando em uma área que, infelizmente, ainda dá poucas oportunidades para as mulheres.

Em um bate-papo exclusivo com a Máxima Digital, a artista plástica contou que já enfrentou o machismo de frente. 

"Vivi situações muito mais ligadas ao jogo de poder e abuso moral, do que barreiras impostas em si. De situações de abuso, de posições privilegiadas para conseguir acesso, ou até mesmo com falsas histórias de interesse em adquirir a minha arte, quando, na verdade, existia ali um interesse físico. Hoje, com mais experiência e até repertório, sei não apenas lidar, mas também encarar e contornar isso. No começo, acho que coloquei muitas barreiras, me sentindo menor e incapaz, ou, às vezes, um objeto, por ser mulher e pela minha aparência.", disse. 

Ela continuou: "Tinha uma atitude constante de enfrentamento, pois entrava nos lugares já com a sensação de ter que peitar e provar algo, e isso é exaustivo, anulei também muitas caraterísticas naturais minhas, pela tentativa de me encaixar a um cenário vendido. O mercado da arte ainda é machista, mas acredito na mudança e hoje luto por ela.".

Kaju disse que também encontrou pessoas boas no caminho: "Por outro lado, também cruzei com homens incríveis na minha caminhada, que se tornaram grandes aliados - e com quem, em conversas abertas, entendi a posição que eu poderia tomar. Também com o tempo, e construindo a confiança de dentro para fora, entendi que ali, o problema não era comigo, e sim, com o próprio cenário. A melhor arma que eu tinha, era desarmar a mim mesma e aos outros através das minhas capacidades, além de conectar a minha experiência com a minha sensibilidade. No fim do dia, somos todos seres humanos ansiando por conexões.".

"Infelizmente, muitos ainda não estão preparados para receber mulheres que são fortes e independentes. E aí que está o potencial para ganharmos espaço. Todo este cenário, na minha opinião, tem que começar a ser substituído por um princípio de igualdade perfeita, de humano para humano. Independente de corpos e sensibilidades, todos nós temos espaço e podemos ganhar o nosso espaço ao sermos inteiros.", disse. 

DE VOLTA AO PASSADO

Kaju contou como foi seu início na arte: "Quando me perguntam quando percebi que era artista, penso que sempre fui, mas esqueci por algum tempo. De verdade, nasci artista, mas não acreditei, como muita gente não acredita, que a arte poderia ser uma profissão, que podemos viver daquilo que amamos e ainda sermos felizes todos os dias.".

"Aos poucos fui entendendo que o mundo não precisa ser como nos contam e que eu poderia questionar e quebrar as minhas crenças e as da sociedade. Encarei o viver (d)a arte como um estilo de vida. E, por isso, uso este d entre parênteses, pois vivo da minha arte, a minha arte e pela minha arte.", continuou.

A artista disse que tudo está conectado: "Não existe diferença entre vida pessoal e trabalho, tudo está conectado e esta mudança de perspectiva me ajudou a despertar e a me descascar dos ruídos. Me assumi — ou lembrei que era — artista em 2012, quando tinha sociedade em um escritório de arquitetura, comecei a construir uma transição que durou cerca de um ano e meio, onde me conheci melhor, estudei e entendi como eu poderia me posicionar no mercado.".

"Em 2014, brinco que saltei no vazio e tem sido assim desde então. Parece simples e fácil e até é por um lado, quando seguimos a nossa intuição, mas também não é livre de desafios. É uma verdadeira montanha-russa, em muitos sentidos. Porém, com o tempo, você aprende a aproveitar os momentos altos e baixos, como uma oportunidade de viver experiências, evoluir e de crescer. A caminhada não é livre de tombos, mas aprendemos a cada dia a levantar mais fortes e resilientes e no fim do dia, o sorriso é tão grande, que cada passo vale a pena. Isto para mim também é viver (d)a arte.", finalizou. 

INSPIRAÇÃO

Kaju é uma inspiração para diversas mulheres que buscam espaço no mercado de trabalho. 

A artista plástica deu um conselho para aquelas que querem ser empreendedoras, mas se sentem inseguras.

"O caminho sempre começa por dentro. Para encontrar a voz na arte e no mercado, precisamos nos conhecer e entender a nossa expressão e o nosso valor. Podemos tentar buscar isso do lado de fora, na aprovação, na tentativa de nos encaixarmos, mas isso não se sustenta. A base começa de dentro e quanto mais sólida ela for, maior o voo.", disse. 

Ela continuou: "Não tenham medo de ser demais, ou de menos. Se permitam, todos os dias, a serem inteiras, a confiança, e o seu valor, vai florescer daí. Posso dizer isso pela minha experiência e pelas artistas, que também ensinei ou mentorei, através dos meus workshops e cursos. É transformador e principalmente libertador. 'Menos do que esperam e mais do que somos' é o meu mantra ainda hoje.".

Por falar em inspiração, ela falou o que a faz brilhar os olhos: "A produção artística em si é uma consequência de como enxergo a vida, me permito vivê-la e também permeio o meu cotidiano, para depois transbordar em arte. É sobre assumir responsabilidades e quase uma consequência de um processo orgânico como o inspirar e o expirar. Se trabalho de forma espontânea ou por encomenda (principalmente no caso das paredes), o inspirar acontece na compreensão e conexão com um momento, espaço, tempo, e um porquê. O expirar transborda como expressão, pincelada e como arte.".

"Quando a arte surge de mim, é um momento de muita entrega e calma, quase uma meditação. A arte acalma a minha alma e desejo isso para os que a observam e a absorvem. Busco me inspirar realmente nas pessoas por trás de obras e criações, muito mais em suas formas de ver e viver a vida, do que aquilo que produzem. Neste primeiro momento, o primeiro nome que me vem à mente é o do Buckminster Fuller, um visionário, designer, arquiteto, inventor e escritor que me identifico muito. por sua visão sistêmica perante a vida e a forma que buscava antecipar os problemas a serem enfrentados pela humanidade, buscando sempre soluções através da criatividade e tecnologia.", disse. 

PROJETOS

Recentemente, ela fez parte de um lançamento de coleção de roupas 100% sustentáveis. A artista falou que acredita que há um grande potencial do mercado das artes e da moda ser mais sustentável. 

"Enxergo a arte como uma ferramenta de transformação, para me permitir ser inteira. Então, da mesma forma, acredito que, independente do que ela toque, ela pode conscientizar e transformar as outras pessoas. Cada artista tem seus valores e suas causas e uma das minhas mais fortes estão ligadas ao autoconhecimento e ao meio ambiente.", disse.

Ela continuou: "Ao abraçar e incentivar a arte como um estilo de vida, precisamos respirar arte, criar arte, ser arte — e também vestir a nossa arte. E foi aí que surgiu também a conexão com a moda. Vestir a nossa arte vem do manifesto de nos permitirmos sermos autênticos, de abraçarmos e nos vestirmos da nossa essência.".

"A coleção foi feita para quem está menos preocupado em parecer e mais em ser, com a consciência de que todo ato tem um impacto em nós e no contexto que vivemos. Será que você está se vestindo de si todos os dias? E qual o impacto que está deixando com isso? Em você, nos outros, e no seu ambiente? São perguntas que nos fazem pensar, não é mesmo?!", finalizou.