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Comportamento / Racismo

Cabeleireiro é acusado de racismo ao falar sobre cabelo crespo de modelo: "Filhote de patrão"

A modelo Mariana Vassequi relatou nas redes sociais que foi vítima de racismo durante um evento. Profissionais se pronunciaram sobre o caso

Máxima Digital Publicado em 26/08/2020, às 16h41

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Cabeleireiro tem fala racista ao falar de cabelo crespo de modelo - Reprodução/ Instagram
Cabeleireiro tem fala racista ao falar de cabelo crespo de modelo - Reprodução/ Instagram

A modelo Mariana Vassequise pronunciou após ter sofrido racismo durante um trabalho. Em um vídeo que circula nas redes sociais, publicado pela influenciadora Kemilly Fox, ela apareceu com o cabeleireiro Wilson Eliodorio, que mexe em seus cabelos. 

Na ocasião, o profissional foi contratado para dar uma palestra de "como tratar cabelos étnicos", mas teve um comportamento extremamente preconceituoso.

"Esse é filhote do patrão. Patrão comeu aqui e gerou isso aqui", afirmou o Wilson. Em seguida, ele se aproxima de outra modelo e diz: "Esse também é um cabelo brasileiro, pela ascendência étnica, mas aqui é mais comum. A gente encontra na Europa."

Após a repercussão do comentário racista, Mariana escreveu um longo texto no Instagram para falar sobre o vídeo e como se sentiu com a situação. Vale lembrar que ela foi contratada por uma marca de cosméticos para cabelos como modelo para o lançamento de um novo produto e não ser vítima de racismo.

"Em meio ao evento, em um dos momentos eu e a Ruth Morgan (outra modelo companheira de trabalho que também estava sendo contratada) nos deparamos ouvindo diversas frases muito ofensivas e racistas! Foi triste mesmo! A gente ouviu tudo, percebeu tudo mas naquele momento por medo de sermos demitidas, por medo de acabar a diária e a gente não receber (pois com a pandemia os jobs trabalhos de modelos caíram muito e cada uma já tinha saído de longe pra estar lá eu saí até de outro estado!) e também pela pressão da profissão por naquele momento se tratar de um ambiente de trabalho onde a modelo já é vista como apenas a boneca sem voz, a boneca que tá lá apenas pra provar roupa, desfilar ou ser fotografada", começou Mariana.

"Simplesmente dizer isso é legitimar a cultura do estupro! Quando você diz com essa frase horrível que “patrão comeu” você tá falando de um estupro, ou você acha que mulheres escravas tinham liberdade sobre seu próprio corpo? Você tá banalizando assédio e sendo machista! Vou te dizer uma coisa, querido. Nós não somos filha de patrão nenhum, você conhece minha família? Sabe quem é meu pai, minha mãe? Então cala a boquinha. E parem de diminuir toda uma ancestralidade, diminuir toda uma história reduzindo sempre o negro (a), sempre o cabelo cacheado/afro/crespo à escravidão. Meu amor, a gente existe muito antes desse pequeno detalhe ter acontecido na história da humanidade! Se você olha pra mim e acha que eu sou só isso você está muito enganado e atrasado", continuou.

Por fim, Mariana também citou um vídeo em que Wilson postou chorando e afirmando que a fala foi tirada do contexto. "Não foi nada sem contexto! E não foi só o que foi gravado, foi horas de show de horrores! Você disse o que queria dizer e o que pensa! Você disse o que não fala na cara das famosas, mas fala pra modelos que não são famosas, mas mesmo assim nós temos valor! Meu valor não está no que eu tenho, ou em números mas no meu caráter coisa que diploma e fama nenhum compra. Outra frase citada: 'Esse cabelo é um cabelo que vem do morro, e agora essas mulheres tem dinheiro e agora elas querem ir em salão chique por isso nós temos que saber mexer com elas'", acrescentou a modelo.

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Em sua defesa, Eliodorio publicou um vídeo nesta quarta-feira, 26, pedindo desculpas. "Eu erro e o fato de ser negro não me isenta do erro, porque assim como você nasci nesse país racista. Sim, sofri preconceito, racismo. E não aprende, não aprendeu que não se repete isso com o irmão. Mesmo negro, bicha preta, repetiu todas as merdas que ouviu e ouve todo dia. Perpetuando essas piadas horrorosas que disseminam ódio, machismo, racismo, misoginia", disse o beauty artist.

"Eu trabalho com o cacho, entendo o cacho, o crespo. Sou muito orgulhoso de inspirar mulheres de assumir seu cabelo natural, crespo. Tenho muita culpa e muita vergonha de ter dito o que disse. Principalmente pela dor que causei, mas repito: ser preto não me faz imune da construção racista desse país. Estou em reeducação, assim como tanto de nós. Desculpa. Desculpa Mari, desculpa Ruth",  falou. 

Na publicação, Eliodorio ganhou apoio de algumas famosas, mesmo com a fala racista. "Você foi a primeira pessoa que me fez sentir linda! Acreditar no meu crespo, obrigada. Todos nós erramos, e o mas importante é isso reconhecer que errou pedir desculpas de verdade e seguir em frente, Deus te abençoe, fica na paz", escreveu Cacau Protásio.

"Wilson, é compreensível toda reação e quando eu vi o vídeo fiquei estarrecida de ser você um homem experiente que convive com tantas de nós e apoia e insiste que a gente se assuma e vença o racismo. Isso é a prova da profundidade do racismo e das consequências dele. Que sua história não seja apagada com esse erro, mas que em nome dela você supere os pensamentos e falas que insistem em nos violentar. Sigo te amando e sendo grata. Por isso, essa situação contraditória também tem me feito refletir muito. Sigamos na humildade agora e sempre. Para não dar mas nenhum passo atrás", afirmou Juliana Alves.

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para além das óbvias desculpas meu compromisso de mudança de atitude e revisão de valores. o momento é de escuta e transformação

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