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Comportamento / História de vida

MÊS DA MULHER: Busca pela perfeição, distorção de imagem e muita luta! Conheça a história de Gabriela Mag, uma estrela da internet que enfrentou o padrão de beleza cara a cara

A influenciadora digital compartilha suas experiências com mulheres para ajudá-las a se libertarem de pressões estéticas da sociedade

Gabriele Salyna Publicado em 16/03/2021, às 14h56

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MÊS DA MULHER: Conheça a história de Gabriela Mag, uma estrela da internet que enfrentou o padrão de beleza de frente - Instagram
MÊS DA MULHER: Conheça a história de Gabriela Mag, uma estrela da internet que enfrentou o padrão de beleza de frente - Instagram

“Eu tenho 21 anos e, apesar de eu ter começado a trabalhar nesse meio de beleza, internet com 16 anos, o que já foi muito nova, eu sinto que essa imposição de um padrão, essa busca pela perfeição, que por muito tempo eu vivi e foi imposta, começou desde que eu saí do útero da minha mãe.

Todo mundo, todas mulheres, elas crescem sendo comparadas às outras, muitas vezes à irmã, à colegas de sala. É o que a gente vê também nas propagandas, nos comerciais. Por tanto tempo padrão de beleza foi a magra, loira, alta, aquela coisa modelo. Todo mundo cresce se comparando àquilo. Que é uma imagem tratada, uma pessoa super produzida. Coisas que, na vida real, não existem 100% do tempo.

Com a internet, eu sinto que as coisas estão mais próximas e é aí que está o perigo. Porque isso de você ver Stories da pessoa 24 horas, estar ali no dia a dia dela e vendo 100% de verdade da vida dela, isso traz a perfeição ainda mais mascarada, porque a pessoa está te mostrando a vida dela 24 horas, mas só a parte que ela quer. Ela está mostrando a cara dela quando acorda, mas ela coloca um filtro que muda tudo. Então, isso é mais perigoso ainda, porque te dá aquela sensação de: ‘estou próxima, ela é igual a mim, mas Meu Deus eu nunca vou ser assim. Eu não acordo assim, eu não sou assim, eu não tenho esse corpo.’. E a pessoa se encheu de Photoshop ou achou uma luz e um ângulo bom, que isso muda muito.

Comecei com 16 anos através de um reality de beleza, de cabelo e foi muito bom. Eu venci esse reality e várias portas se abriram para mim. Muitas marcas me procuraram para trabalhar, muitas pessoas me conheceram e começaram a me seguir. O mais louco é o quanto eu mudei de lá para cá, até minhas seguidoras percebem. Quando eu comecei a ter essa audiência, pessoas me assistindo e me chamando de linda e perfeita, eu quis mais ainda ser linda e perfeita. Hoje, eu falo, sem problemas: na época, eu pensava que o que eu tinha que ser era um ideal de beleza que ninguém nunca ia conseguir ser. Eu falava que meu trabalho era ser o que todo mundo queria ser. É o que me foi ensinado, é o que eu via as pessoas que eu gostava de seguir na época na internet.

Todo mundo fala: grandes poderes geram grandes responsabilidades. E eu fui aprendendo isso na marra com o tempo. Eu comecei a trabalhar e eu estava no ensino médio, então ficou pesado para mim, conciliar tudo, ainda mais que eu morava no interior. Eu sempre tive muitas cobranças dentro de casa de tudo. Com notas na escola, beleza, ter o corpo padrão. Eu não culpo minha família por isso, porque eles foram educados de uma forma, que agora a gente está conseguindo se libertar. Eu também tive essa educação e, agora, nossa geração está conseguindo se libertar disso, mas é um negócio que nos foi ensinado há muito tempo com o intuito de vender produtos para deixar de um jeito todo mundo igual. Eu não culpo, eu entendo que minha mãe estava querendo meu bem, me preparar para a sociedade, para ser aceita.

A cobrança da minha família, da sociedade, da internet, eu me comparando com outras pessoas, tudo isso foi me gerando. Eu pesava 48 quilos na época, mas eu me olhava no espelho e me achava gorda. Eu comecei a ter distorção de imagem.

Eu lembro de eu ter feito um trabalho com uma atriz da Globo, ela estava com um macacão branco e eu ficava: ‘Olha o corpo dela. Não tem uma celulite. Se ela é assim e chegou onde ela está, se eu quero chegar lá, eu também preciso ser assim’.

Eu sempre reconheço que eu sou uma pessoa muito dentro dos padrões. Eu sou loirinha, branca, com olho claro. Eu engordei 10 quilos com a distorção e mesmo com isso, eu tenho que reconhecer que eu nunca fui gorda.

A cobrança acabava vindo muito de mim mesma e a distorção de imagem começou. Eu me auto sabotava, eu comecei a descontar tudo que acontecia na minha vida, coisas boas e ruins, na comida. Isso de forjar uma perfeição a todo momento nas rede sociais, de sempre estar com o cabelo e pele impecável, sempre estar arrumada, foi me frustrando muito. Não era o que eu queria viver e não era o que eu queria passar. Eu ficava pensando: ‘o que eu causo nas pessoas com isso?’.

Se eu não tivesse passado pela distorção de imagem e pela compulsão alimentar, eu não sei se eu teria esse despertar para pensar no lado do outro, porque eu tive que ver que, se eu sofro com isso, muitas pessoas podem sofrer também. A compulsão alimentar durou dois anos e foram os dois anos mais difíceis da minha vida. Eu só pensava nisso. Eu só pensava em como as pessoas viam meu corpo quando eu chegava em algum lugar.

Eu não usava braços de fora, eu ficava pensando que as pessoas iam olhar para o meu braço. Podia estar o calor do deserto e eu estaria de jaqueta, se ela caísse, eu entrava em pânico. Os cinco segundos até eu colocá-la de volta eram aterrorizantes. Eu passava na frente do espelho, levantava minha blusa, olhava minha barriga e sentia ódio pelo meu corpo. Várias coisas aconteceram nesse período. Eu já comi uma pizza inteira sozinha, depois eu me culpei tanto. Doeu fisicamente e emocionalmente. Eu tentei vomitar, nunca consegui. Uma época eu tomava laxante um dia sim e um dia não, tanto que ele parou de funcionar.

Eu machucava meu corpo o tempo todo. Eu só me depreciava, eu só falava mal do meu corpo, eu falava coisas horríveis. Eu estava em um ciclo vicioso em que me odiava, descontava na comida e não parava. Isso doía muito em mim, porque só dependia de mim para mudar isso. Eu só consegui sair disso com terapia, ouvindo pessoas na internet que falavam sobre o assunto, que já passaram por isso.  

No começo da aceitação, você se olha no espelho, tenta pensar em coisas bonitas, se olhar com olhos de amor e você não consegue. Você fica: ‘Quem eu estou enganando?’. Com o tempo, você vai se acostumando com sua imagem, vai ver ela com outros olhos e não com os olhos da sociedade, de ódio. Me ajudou muito seguir pessoas que falam sobre essas coisas, que passam por dificuldades, que não tem a vida fantástica, que não tem um corpo padrão.

Esses dez quilos que eu engordei nesses dois anos e só querer comer, acabou com a minha vida social. Eu não conseguia me achar bonita. Eu não conseguia acreditar que alguém ia querer ficar comigo. Eu pensava que só viam aquilo, porque eu só via aquilo. A minha insatisfação com o meu corpo.

Eu fui fazendo terapia, estudando e seguindo pessoas que me fazem bem, eu comecei a me amar muito mais. A minha compulsão alimentar diminuiu muito, dizem que não acaba e eu concordo. Ainda não acabou, porque se acontece alguma coisa que mexe muito com o meu emocional, eu acabo descontando na comida, mas hoje eu sinto. Eu até me permito, me perdoo e é uma coisa que eu não consigo controlar, porque é totalmente emocional. Hoje é diferente, porque eu me perdoo, me permito e não continuo esse ciclo. E não seguir nesse ciclo vicioso, ouvir meu corpo.

Um dia, quando eu já estava no meio do caminho para a minha ‘cura’, eu tive uma vontade de soltar tudo na internet, isso aconteceu em 2019, muito para desabafar. Naquele momento, eu vi que eu toquei muita gente, que eles se identificaram e que eu ajudei muitas pessoas. Algumas meninas me falaram que mostraram para as mães, para explicar o que elas sentiram. É uma coisa que as pessoas que não vivem isso não entendem. Se você ficar presa nisso, vira uma coisa de auto sabotagem.

Eu acho que filtros, Photoshop e atitudes que mostram uma vida perfeita e falsa na internet contribuem muito para isso, por isso que eu tomo muito cuidado. Depois que eu vi quantas seguidoras se identificaram, não só com o distúrbio alimentar, mas com a questão do corpo. A maioria das mulheres é insatisfeita com o corpo, porque a gente se compara o tempo todo e segue pessoas que não tem o mesmo corpo e que se enchem de filtros e Photoshop.

Eu senti que eu tinha um propósito de falar com as meninas e dizer: ‘Eu sou que nem você. Eu não sou essa pessoa inatingível’. Eu tive uma virada de chave que eu não quis mais ser uma pessoa inatingível, eu quero ser uma pessoa que ajuda outras meninas. Uma pessoa que passou por coisas que outras pessoas passam e pode ajudá-las de alguma forma. E isso é o que mais me dá propósito. Ver que eu faço a diferença.

Eu fiz um documentário que chama ‘Refém.Doc’ e foi justamente essa ideia de que eu não quero viver para vender um ideal de perfeição totalmente falso para alguém. Isso não me alimentava. Às vezes, eu tinha conquistas com isso, eu crescia mais rápido no Instagram, as pessoas me achavam mais bonita, minha vida social era um pouco mais fácil. A galera abraça muito a perfeição.

Como eu falei em ‘Refém’, todo mundo têm seus vazios, a gente acaba buscando na internet coisas que preencham esse buraco. A gente é levado a acreditar que se a gente tiver o corpo perfeito, coisas luxuosas e uma vida falsa, isso vai nos trazer felicidade. Esses três pilares eu cito no meu documentário e mostro como isso é uma inverdade.

No documentário, eu cedi a semana do meu aniversário para agir como uma pessoa tóxica. Eu desativei meu perfil no Instagram para as pessoas perceberem que aconteceu alguma coisa, que é quando começou o projeto. Depois, eu postei vários Stories com filtros que modificaram meu rosto e ninguém estava entendendo nada, porque eu sempre fui contra isso. Teve gente pensando que eu estava com a autoestima muito baixa, pensando que eu virei aquilo. Eu postei uma foto com Photoshop, que repercutiu muito, então chamou muita atenção, caíram muito em cima de mim. Fiz Skin Care com filtro, que mudava até a cor do meu olho, bem aquela coisa forçada.

Eu comecei a colocar mensagens subliminares, com um emoji de radioativo no cantinho das coisas, porque depois do projeto, depois dessa semana que eu estava agindo como uma louca, eu tinha que provar que aquilo tudo era um personagem, que não era eu.

Passei meu aniversário longe dos meus amigos, para passar com pessoas que engajariam mais comigo, porque as pessoas trocam conexões reais por números. O que eu não considero que seja um crescimento, porque é falso. Me mandei flores para acharem que eu tinha uma vida amorosa interessante. Tive toda essa preocupação com aparência que as pessoas têm e querem passar que vivem e até mentem para si mesmos.

No domingo saiu o documentário em que eu mostrava o porquê eu agi daquela forma. Apareci toda real, mostrei os bastidores, o quanto eu sofri, o quanto eu não aguentava mais, o que eu penso sobre isso, o quão tóxico é isso. O que eu digo é filtro e Photshop parecem umas coisas tão inofensivas, mas tem uma pessoa do outro lado da tela te assistindo acordar com aquele filtro e pensando: ‘Nossa, eu não acordo assim’. Isso ajuda a pessoa a se odiar. A pessoa se compara com uma coisa que não é real e se odeia por isso.

Esses filtros também são prejudiciais para mim, porque eu percebi que eu não conseguia mais gravar um vídeo sem filtro. Eu assumi aquele filtro como a minha verdade. O meu rosto real me incomodava, eu não estava mais me reconhecendo. Isso acontece com todo mundo. A gente não se aceita mais como a gente é.

Venda de produtos para emagrecer e quem divulga são blogueiras que fizeram lipoaspiração, elas têm mega hair e vendem produtos para crescimento de cabelo. É muita mentira. Eu já contribuí muito para isso, porque eu queria ser esse ideal de perfeição.

O ponto é: quem são as vilãs disso tudo? Será que são as blogueiras que estão tentando ser perfeitas a todo custo e vender essa perfeição? Para mim, não. O oprimido nunca pode ser o opressor. Essas blogueiras que têm esse comportamento, eu quando fazia isso, temos essa pressão, essa obrigação de ser perfeita e ser a mais bonita o tempo todo. Elas também são vítimas. A pessoa que está assistindo aquele conteúdo tóxico e a blogueira, que é obrigada, também são vítimas. Todo mundo é vítima. Todo mundo vive esse sistema, todo mundo é educado se comparando, segue pessoas que nos fazem nos comparar.

O que eu mostro com o documentário é que o sistema é doentio, ninguém está salvo e nunca é suficiente. Você nunca se sente o suficiente. Nada está bom o bastante. É terapia, se aceitar, acordar e parar de sustentar essas verdades que aprisionam a mulher.

A busca pelo padrão não vale a pena.".


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