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Comportamento / MÊS DA MULHER

MÊS DA MULHER: Ginecologia natural é o contrário da convencional? Entenda tudo sobre o método alternativo

Beatriz Sabô, especialista em autoconhecimento da saúde íntima da mulher, explica mais sobre ginecologia natural

Máxima Digital Publicado em 05/03/2021, às 15h06

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Beatriz Sabô, especialista em autoconhecimento da saúde íntima da mulher, explica mais sobre ginecologia natural - Freepik
Beatriz Sabô, especialista em autoconhecimento da saúde íntima da mulher, explica mais sobre ginecologia natural - Freepik

Não há como negar que o da sociedade trouxe muitos benefícios para a vida das mulheres, ainda que menos do que esperados. Existe uma maior independência de corpos e liberdade de entendimentos.

Uma dessas percepções corporais fez com que muitas decidissem se reconectar com sua ancestralidade, entendendo questões que deveriam ser óbvias como o ciclo menstrual, acompanhamento da fertilidade e conhecimento da saúde íntima, por exemplo, que podem ser afetadas pelo uso de pílulas anticoncepcionais ou remédios.

A busca pelo entendimento do corpo feminino vai se encontro com a ginecologia natural, tipo de terapia holística que vem ganhando cada vez mais espaço entre as mulheres que buscam por alternativas aos métodos tradicionais. Para isso, conversamos com Beatriz Sabô, idealizadora do Projeto social Vulva Política e terapeuta menstrual.

Antes de mais nada, é preciso saber qual a importância da ginecologia natural feminina para as mulheres. Segundo a especialista, é uma visão totalmente revolucionária para a mulher ou para corpos com vulva e útero. De trazer de volta o protagonismo, a autonomia, a autorresponsabilidade por meio do conhecimento. É um movimento que busca conscientizar e estimular o olhar para dentro de si. 

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a ginnecologia natural não é o contrário da convencional.  Na verdade, ela é uma proposta de conexão, de olhar para dentro de si e buscar tratamento integrativo. É um conhecimento e saber ancestral que vem sendo resgatado.

"Não acho que anula, na verdade, o conhecimento da Ginecologia natural e autônoma pode auxiliar e muito no atendimento médico convencional, pois temos conhecimento sobre o nosso corpo, ciclo, sabemos manusear um espéculo. No meu projeto Vulva Política, que atrela a ginecologia natural e autônoma com os direitos sexuais e reprodutivos, é ainda mais forte vermos como esse conhecimento pode proteger e dar voz quando a ginecologia convencional for necessária por meio de exames, intervenções cirúrgicas e mais", disse.

Esse descobrimento do próprio corpo influência a mulher em que aspectos da vida, como o autoamor, autoconfiança e autorespeito pelo autoconhecimento. "Ouço muito de mulheres sobre como esse conhecimento as empoderou, libertou e essa é a minha trajetória também. Quando valorizamos o nosso corpo (físico, mental, emocional e espiritual) nos valorizamos inteiras. Passamos a compreender, acolher e aproveitar as nossas variações hormonais; a tratar com naturalidade nos processos biológicos como a menstruação, ovulação… E isso traz inúmeras mudanças positivas". acrescentou.

De acordo com Beatriz, os relatos de mulheres ainda englobam o fato de terem parado de sentir desconfortos ginecológicos após ter passado a respeitar o próprio tempo; de trocar o absorvente descartável por um de pano, coletor ou calcinha menstrual - todas alternativas mais sustentáveis.

Entretanto, o processo de descobrimento é muito individual e único. Não existe uma regra. Cada mulher seguirá o seu caminho diante dos seus próprios estudos, interesses, possibilidades e condições. Inclusive, os motivos que podem levar mulher a se conhecer.

O feminismo e a sustentabilidade são dois grandes movimentos estimuladores para o autoconhecimento, o gatilho também pode ser os seus próprios desequilíbrios, dores, feridas como uma forma de despertar para o autoconhecimento e autocuidado. 

Esse entendimento todo não se restringe ao anticoncepcional. A Ginecologia Natural não recomenda o uso de pílula anticoncepcional, porque retira-se o ciclo menstrual e é por meio da ovulação que produzimos hormônios importantíssimos para a saúde como um todo. A saúde da mulher está muito ligada com a saúde menstrual.  

Beatriz comentou sobre sua própria vivência. Ela tinha enxaqueca com aura e não poderia ter usado a pílula combinada. Após parar, começar a estudar, modificar a alimentação e inserir a prática de exercícios físicos, a enxaqueca com aura não é mais algo presente na sua vida. 

"A vida sem hormônios também não tem regra, não é um processo fechado. Cada mulher sentirá de uma forma.  Para mim valeu muito a pena passar por esse período e me conhecer totalmente. Conhecer meu corpo, ciclos, libido e ter de volta a minha saúde mental e emocional", falou.

As principais dicas para quem quer ingressar nesse caminho é a mais simples: tome as rédeas do próprio corpo, saúde por um olhar integrativo. Segundo Beatriz, é se tornar especialista em si mesma e isso só é possível se houver dedicação, estudo, autoestudo e responsabilidade. Não há nenhuma possibilidade de adentrar nesse caminho querendo que outras pessoas façam esse trabalho. Terapeutas da Ginecologia Natural, médicas ginecologistas, outras mulheres e demais são auxiliadoras nesse caminhar mas ele é individual e único para cada uma.

Contudo, existem muito mitos. Para a terapeuta, muitas acreditam que seja negar ou demonizar a ciência, os avanços e isso não é verdade. Além disso, existe uma falta de abertura para entender o que é a proposta da Ginecologia Natural e autônoma, que é um movimento político de resgate, na verdade. Um movimento crítico à indústria cosmética e estética, a hipermedicalização, as relações desiguais de poder no saber médico.

As mulheres são constantemente bombardeadas pela sociedade de que a vulva (ou vagina) são sujas; que a menstruação é nojenta; que engravidar é motivo para ganhar menos nos empregos. A pornografia traz um padrão de beleza até para os lábios internos e externos. 

Tal conhecimento vem para trazer maior aceitação, compreensão e amor. Valorizar a diversidade de corpos, vulvas e respeito pelos nossos processos. Beatriz ainda provocou o pensamento: "É aquela frase:Quantas indústrias iriam a falência se as mulheres passassem a se amar?".

Sem os hormônios, os métodos contraceptivos mais indicados são os de barreira como o preservativo feminino, masculino e o diafragma, os não-hormonais como o diu de cobre e os naturais como o método de percepção de fertilidade. 

Outro ponto, é o autoexame. Ele é realizado com a introdução do espéculo no canal vaginal. Com ele é possível olhar as paredes vaginais, o colo do útero ao fundo e buscar observar se há algum tipo de bolinha, micro corte. Em consultório ginecológico, é recolhido material para a análise em laboratório.

Em casa, o autoexame feito como uma forma das mulheres ou pessoas com vulva se familiarizarem com o espéculo. Há também o autoexame das mamas pelo toque que é importantíssimo. 

A Ginecologia Natural não está ligada apenas com o período de menstruação, a pré também é levada em conta. Ela pode auxiliar incentivando que seja entendido o conhecimento biológico e fisiológico sobre o funcionamento do ciclo menstrual, anotando sinais e variações ao longo do ciclo.

Esse estudo ajuda a perceber as transformações físicas que se manifestam no corpo, como por exemplo, a altura e textura do colo útero. Estando mais alto no período fértil e mais baixo no período menstrual.

A Ginecologia Natural também expande o olhar sobre o autoconhecimento a cada um dos 4 períodos: pré-menstrual; menstrual; pré-ovulatório; ovulatório.

Na opinião de Beatriz, medicina convencional favorece a alienação sobre o próprio corpo e saúde. Não que remédios e medicamentos alopáticos não sejam necessários e importantes em determinados momentos, mas acontece uma hipermedicalização que muitas vezes não resolvem o desequilíbrio e não estimulam o protagonismo na saúde. 

Como tudo que cerca as mulheres, o patriarcado reflete como na ginecologia convencional. Afinal, para a terapeuta, ele está enraizado em nossa sociedade e reflete em micro espaços também. "Se puxarmos uma roda de conversa sobre consultas ginecológicas e a ginecologia convencional é assustador a quantidade de relatos de médicos e médicas misóginas e violadores de direitos sexuais e reprodutivos", explicou.

Sem preocupação! Os métodos utilizados são comprovados cientificamente. "A fitoterapia e a aromaterapia são ciências e nos últimos anos tivemos o aumento para a produção de evidências científicas diante da demanda das mulheres e pessoas com útero para que a ciência contemporânea possa servir a nós também. Os métodos contraceptivos são todos comprovados e possuem suas taxas de falha bem determinadas. Inclusive o método de percepção de fertilidade. ", finalizou Beatriz.

Conheça mais sobre Beatriz Sabô.

Cientista política de formação; mestra em Bioética pela Universidade de Brasília estudando Ginecologia Natural e Autônoma aliada aos Direitos Sexuais e Reprodutivos. Idealizadora do Projeto social Vulva Política. Terapeuta menstrual; de Escuta das Emoções e Aromaterapeuta profissional. 


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