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Comportamento / Agressão

Por que muitas mulheres têm dificuldade de denunciar violência doméstica?

Medo, vergonha e a crença na mudança do parceiro são alguns fatores

Mirella Cordeiro Publicado em 05/05/2019, às 17h00 - Atualizado em 22/08/2019, às 01h40

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A Síndrome do Desamparo Aprendido também é uma das causas - Designed by Dragana_Gordic/Freepik
A Síndrome do Desamparo Aprendido também é uma das causas - Designed by Dragana_Gordic/Freepik

Fernanda* sofreu durante anos com a violência doméstica do ex-parceiro, tanto física quanto psicológica. Ela conta já ter saído na rua com maquiagem para cobrir as marcas de agressão. E que chegou a ser espancada após reclamar de ter sido traída, entre outras situações.

Foram anos sofrendo com esse tipo de violência até conseguir expor a situação. Mas este não é um caso exclusivo. Em fevereiro deste ano, a pesquisa ‘Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil’, do Datafolha, registrou que, das mulheres que sofreram algum tipo de violência nos últimos 12 meses, 52% se mantiveram caladas. Dentre as que buscaram ajuda, a maior parte procurou familiares, amigos e membros da igreja.

POR QUE AS MULHERES TÊM DIFICULDADE DE DENUNCIAR?

O medo, a vergonha e a crença na mudança do parceiro são exemplos de fatores que impedem a mulher de sair dessa posição. 

Paula Martins é uma das administradoras de um grupo de apoio a vítimas de violência doméstica no Facebook. Ela comenta ser possível perceber que, em muitos casos, o agressor acaba com a autoestima da mulher e a faz acreditar que ele é a única opção: “O agressor fala: ‘você é feia, você é gorda, você é magra, você é alta’ sempre de uma maneira pejorativa. Aí a pessoa fica dependente.”

A promotora de justiça Valéria Scarance, especializada em Gênero e Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, explica que este é um fenômeno chamado Síndrome do Desamparo Aprendido. 

“É como se a mulher aprendesse que não tem saída. Ativa no cérebro um mecanismo que inibe a reação. Daí, como não consegue esboçar nada, deixa de denunciar e, quando denuncia, muitas acabam desistindo”, analisa.

COMO RESOLVER?

Valéria Scarance afirma que é importante não relacionar a agressão ao comportamento da vítima. Isso porque, quando elas vêem na mídia a agressão associada ao consumo de álcool, drogas ou traição, se sentem desmotivadas a denunciar.

Além disso, o ideal é incentivar a busca por um atendimento qualificado, como o de uma delegacia. Nesses lugares, os funcionários auxiliam não apenas no boletim de ocorrência, como dão suporte no processo de libertação. 

Na capital de São Paulo, por exemplo, existe o Projeto Integrar, uma cooperação entre o Ministério Público e a Secretaria de Segurança Pública, que está sendo expandido para o interior. “É um projeto de formação e capacitação das equipes de policiais que atendem às mulheres nas Delegacias de Defesa da Mulher, ou em delegacias de plantão”, diz Valéria.

A promotora de justiça ressalta ainda que, a longo prazo, é preciso abordar a questão da violência, gênero, silêncio da mulher, formas de violência com os mais jovens. “Isso inclui tanto as campanhas, como as atuações nas escolas”, diz.

*Nome foi trocado