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Comportamento / Dança é arte

Ramana Borba mostra que dança é mais que movimentos do corpo - é arte

A gaúcha tem conquistado o seu espaço na meio da dança e nas redes sociais

Bruna Goularte com supervisão de Marina Pastorelli Publicado em 13/09/2020, às 16h00

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Ramana Borba mostra que dança é mais que movimentos do corpo - é arte - Reprodução/ Instagram
Ramana Borba mostra que dança é mais que movimentos do corpo - é arte - Reprodução/ Instagram

A quarentena nos apresentou um novo fenômeno na internet: as danças do TikTok. Só que tem gente que leva isso muito à sério. É o caso de Ramana Borba. De Porto Alegre para o mundo, literalmente,  a dançarina quebra tudo quando o assunto é dança.

A jovem, que começou descobriu a dança aos 14 anos, é um sucesso agora aos 19. São mais de 1,4 milhões de inscritos no YouTube, mais de 500 mil seguidores no Instagram e 1,4 milhões de seguidores no TikTok. 

Em bate-papo com a Máxima Digital, Ramana contou que sempre sentiu que ‘quando aquilo é pra ser, é” e ser uma discípula fiel de Beyoncé sempre a incentivou na carreira.

Tudo começou quando na adolescência sua mãe, que agora é empresária, a colocou em workshops de dança. Mesmo tímida, ela encarou o desafio e se descobriu. A ideia do canal veio logo em seguida quando ela queria mesmo ver o seu desenvolvimento e deu super certo.

No início, ela mostrava coreografias e iniciava a ideia de ensinar alguns passos de funk. Após, de forma natural, suas inscritas começaram querer saber mais sobre seus cabelos, roupas, maquiagens e foi aí que a Ramana influencer começou a surgir.

Dica: Ramana tem um quadro em seu canal, o #ManaAjuda, que ela mostrar o passo-a-passo de movimentos no funk conhecidos como, quadradinho e reboladas. Então, sem desculpa para falar que não sabe dançar na próxima festa, hein?

Contudo, a dançarina sempre quis ir contra a maré e apostou em si mesma. Afinal, muitas vezes nas companhias as pessoas negras são duas, três. Só que isso não a abalou: “Então, no começo, meu canal, acabou tendo haters. Quando eu era mais nova eu estava fazendo aquilo, porque eu queria. Acredita que estava fazendo aquilo, porque iria evoluir. Alguns comentários preconceituosos aconteciam ao contrário do que outros canais que não tinham pessoas negras no comando”, afirmando que sua mãe sempre esteve ao seu lado.

E se você pensa que ela é apenas YouTuber por aparecer nas vídeos, está enganado. Ela participa de tudo - e tudo muito bem pensando. “Quando as pessoas olham meus vídeos e veem a grandiosidade que tem por trás, pensam que tem uma equipe imensa, mas quem trabalha diretamente comigo é minha mãe. Eu fico encarregada na coreografia e produção. Além dos videomakers. Amo isso de produção. Pesquisar o lugar, a paleta de cores. Estou envolvida em tudo. Trabalho para o meu canal como se fosse com os artistas”, disse.

O canal abriu espaço para outras produções e a lista é longa. Ramana estreou em clipes em grande estilo com sua participação de ‘Pesadão’, de Iza. Depois teve Rock In Rio 2018, nos show de Iza, Delacruz e dividiu palco com o dançarino Justin Neto. Prêmio Multishow 2019 no ballet de Ivete Sangalo e Iza. Também não podemos esquecer do DVD da Ludmilla, Hello Mundo, que ela dançou.

A valorização da arte de Ramana veio com os convites de para coreografar produções grandiosas. Em 2018, ela foi convidada para participar do projeto do DJ internacional Steve Aoki e produzir um clipe com a cara do Brasil. Deu tão certo que o seu vídeo superou o vídeo original.  No clipe, ela adaptou a música para o meu conteúdo e também para a visão brasileira. A coreografa busca afastar o esteriótipo de brasileira. Ela acredita que somos além disso. As características vão coisas mais simples, desde o vídeo ser colorido, porque para ela o Brasil é cor e pessoas. 

“Muitas vezes os dançarinos se colocavam atrás dos digamos artistas, que são os cantores. Na construção da minha carreira, quando eu comecei a perceber isso, vim com a ideia dei: ‘não, eu sou tão artista quanto. A dança também é arte e a gente precisa valorizar isso’. Por isso, em todos os projetos, eu gosto de estar do lado do artista entendendo o que ele quer e sempre ajudando em outras coias também”, falou.

O seu processo de criação busca compreender e unir arte com identidade. “As marcas e cantores começaram a entender o quanto a dança consegue impulsionar qualquer música, qualquer clipe, aquilo que alavanca. É muito importante você ter um correógrafo e um cantor na mesma conexão pra não ficar só na movimentação. Tem que ser identidade. Quando eu faço uma coregrafia tem que ser a cara da música”, acrescentou.

O que se mostrou em dois dos seus últimos projetos.Ramana foi convidada por Lázaro Ramos para fazer toda a produção do clipe de Projota, ‘Ombrim’. No clipe, Taís Araújo também deu o ar da graça. O ator a conheceu pela redes sociais e como era o diretor do vídeo, não pensou duas vezes no convite e ela também aceitou de cara.

Após, veio a produção do clipe Pode Dançar, do Pedro Sampaio.“A gente tem um lado muito parecido que ele também quer estar em todos os processos. Quando eu comecei a trabalhar, ele já falou: ‘tem que ter challenge e coreografia’. O clipe tem vários contextos que ele pensou”.

Em ambos, os clipes os ‘challenges’(desafio, em português) deram uma guinada nas redes sociais, principalmente, no TikTok. Ramana sabe a importância e peculiaidades de cada rede social. 

“Sempre que eu entro em uma nova plataforma para produzir conteúdo eu quero entender. Faço conteúdo distintos. Sei qual é o conteúdo do meu YouTube, do Instagram e do TikTok. Às vezes as pessoas acham que é só colocar o mesmo conteúdo, mas não, cada um tem a sua linguagem. Comecei a estudar e entendi as movimentações que são a cara da plataforma”, analisou.

No Youtube, vemos dicas de dança, coreografias, vlogs e um pouco mais sobre ela. No Instagram, o lado de Ramana influenciadora é aflorado - temos dicas de looks, trabalhos com marcas, treinos e muito mais. Já no TikTok, as danças famosas são vistas e dublagens. Inclusive, ela se denomina como ‘Dancer Influencer’, e não podemos dizer que não é, né?

“A dança me influencia de várias formas. Então quando as marcas notarem melhor isso, as pessoas vão ter outra visão. A dança não é só movimentos, pelo menos não é como eu trabalho.Vai tão além. É sobre como você é, como você está”, falou. 

Essa clareza de Ramana fez com que ela negasse trabalhos com marcas por causa da sua identidade e que combinem 100% com suas ideias. Tudo isso para que assim ela seja conhecida pelo seu nome Ramana Borba e não apenas como dançarina.

O sucesso e os números não são frutos do acaso. “Eu tenho metas como todo mundo. Tinha a meta de bater 1 milhão no TikTok até o fim do ano e consegui. Só que o carinho não tem preço. As redes sociais vão mudando e a gente também. Antes eu era tímida e hoje não sou mais. Se me contassem a sete anos atrás tudo o que está acontecendo, não acreditaria. Era um sonho tão grande e você não sabe se vai acontecer”, disse.

“São números muito grandes, mas trato como metas. Eu crio conteúdos de qualidade, então quero números grandes. Às vezes você faz um trabalho incrível e não tem o reconhecimento. Eu fico extremamente feliz quando dá certo. Quando você faz parte de todos os processos, o sentimento de realiza. Se uma pessoa falar que meu conteúdo está impecável já vou estar muito feliz”,  acrescentou.

E deu certo. O challenge de Wap, música de Cardi B e Megan Thee Stallion é um sucesso. Claro que Ramana não ficaria de fora. O vídeo no TikTok alcançou mais de 32 milhões de visualizações e chegou até mesmo em Cardi que compartilhou no Twitter e Instagram.


Além disso, a versão funk da música também bombou e já bateu 5 milhões só no TikTok. 


Contudo, a dançarina teve um bloqueio criativo durante a pandemia. Ela, que adora locações e cenários diferentes, se viu como criadora de conteúdo apenas dentro de casa. “Sumi e tirei um tempo pra mim. Quando voltei tava com um bloqueio. Comecei a entender que quando você é artista você se inspira em coisas que acontecem ao seu redor, no dia-a-dia”, afirmou. Sua solução foi usar a internet como fonte de inspiração e esclarecer para seu público o que estava passando. 

O funk é uma das suas marcas e ela não esconde: É tão ultrapassado desprezar alguém ou dizer como ela vai ser pelo o que ela dança. É igual se fosse pelo o que ela veste. O funk está sempre quebrando barreiras e preconceitos. As pessoas têm preconceito com o material, mas todo mundo consome".

Ramana sabe da sua importância na internet. Ela é mulher, jovem e negra. "Muitas vezes as pessoas falam que tem coisas que a gente não pode fazer e isso pode ser indiretamente. Você não se ver em algo já diz que você não pertence a aquilo. Estar quebrando espaços e barreiras, não só eu todos os influenciadores negros, é ter a noção que eu sou um corpo político. Não preciso ter um conteúdo voltado pata o racismo pra estar defendendo a comunidade. As marcas as vezes  pensam: 'vou contratar ela porque ela fala sobre racismo". Não, você vai me contratar porque eu sou dançarina", falou. 

"Eu fico muito orgulhosa de saber que existem meninas que se inspiram em mim. Não precisam entender que é por eu ser negra, mas só por a gente se parecer. Não quero que as pessoas fiquem com 'ela é uma criadora de conteúdo negra', eu sou boa", completou. 

"O mercado é cruel. As vezes é saber que você entenda um conteúdo melhor, mas não vai ser escolhida por algo porque não tem lugar pra você ainda", dizendo, explicando que por isso que sempre traz pessoas negras em seus vídeos. 

O caminho de Ramana ainda está só no começo. Em 2021, ela pretende ir além do seu lado de dançarina e influenciadora, quer entrar na faculdade de Publicidade e Propaganda. E queremos ver muito mais por aí.