Máxima
Busca
Facebook MáximaTwitter MáximaInstagram MáximaGoogle News Máxima
LGBT / Bissexualidade

Pela primeira vez, Richarlyson assume ser bissexual

Em um podcast sobre casos de homofobia no futebol, Richarlyson assumiu ser bissexual

Máxima Digital Publicado em 24/06/2022, às 13h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Pela primeira vez, Richarlyson assume ser bissexual - Instagram
Pela primeira vez, Richarlyson assume ser bissexual - Instagram

Richarlyson participou do primeiro episódio do podcast "Nos Armários dos Vestiários", uma série da TV Globo que narra episódios de homofobia e machismo no futebol brasileiro. 

Aos 39 anos, o ex-jogador e atual comentarista abriu o jogo e, pela primeira vez, assumiu ser um homem bissexual. 

Richarlyson disse que, durante toda sua carreira, rumores especulavam sobre sua orientação sexual e revelou que foi vítima de uma série de preconceitos.

"A vida inteira me perguntaram se sou gay. Eu já me relacionei com homem e já me relacionei com mulher também. Só que aí eu falo hoje aqui e daqui a pouco estará estampada a notícia: 'Richarlyson é bissexual'. E o meme já vem pronto. Dirão: 'Nossa, mas jura? Eu nem imaginava'. Cara, eu sou normal, eu tenho vontades e desejos. Já namorei homem, já namorei mulher, mas e aí? Vai fazer o quê? Nada. Vai pintar uma manchete que o Richarlyson falou em um podcast que é bissexual. Legal. E aí vai chover de reportagens, e o mais importante, que é pauta, não vai mudar, que é a questão da homofobia. Infelizmente, o mundo não está preparado para ter essa discussão e lidar com naturalidade com isso", revelou ele.

Richarlyson disse que sentiu abertura para falar sobre sua orientação sexual: "Pelo tanto de pessoas que falam que é importante meu posicionamento, hoje eu resolvi falar: sou bissexual. Se era isso que faltava, ok. Pronto. Agora eu quero ver se realmente vai melhorar, porque é esse o meu questionamento.".

"Você me entende por que eu acho que é desnecessário às vezes você se rotular? Tem uma questão mais importante, tem gente morrendo, o Brasil é o país que mais mata homossexuais. E a gente está aqui falando de futebol, ok, mas o futebol é um negocinho pequeno. Ah, mas sua fala pode ajudar. Não, não vai ajudar. Quem é Richarlyson, pelo amor de Deus?! Sou um mero cidadão comum, que teve uma história bacana no futebol, mas eu não vou poder mover montanhas para que acabem esses crimes, para que acabe a homofobia no futebol", disse o comentarista.

Richarlyson é o primeiro jogador que já atuou na Série A do Campeonato Brasileiro e participar do time da Seleção a falar abertamente sobre o assunto.

Esse passo marca um momento histórico contra a homofobia no futebol brasileiro: "Eu não queria ser pautado por causa da minha sexualidade, de eu ser bissexual. Eu queria que as pessoas me vissem como espelho por tudo aquilo que conquistei dentro do meu trabalho. Eu nunca coloquei a minha sexualidade à frente do meu trabalho, e nunca faria isso. E eu não estou falando isso agora porque parei de jogar. Muita gente maldosa vai falar isso, que eu falei agora porque não jogo mais. Não. Eu nunca falei porque não era a minha prioridade, como não era hoje, mas hoje eu me senti à vontade de falar. Eu queria que não existisse essa pauta. Eu queria estar falando aqui da minha nova carreira (comentarista). Mas é importante. Vamos poder alertar um ali, outro aqui."

"Eu sempre fui eu. Queria mostrar para as pessoas que independentemente do que elas falassem eu iria viver a minha vida, faria o que me desse prazer brincando de peteca, jogando vôlei, colocar uma braque rosa no vôlei.", disse ele.

Em junho de 2007, o nome de Richarlyson caiu na boca do povo após o então dirigente do Palmeiras José Cyrillo Júnior ter insinuado que ele era gay. Na época, o jogador entrou com um processo e, em seguida, o dirigente se desculpou. 

Manoel Maximiniano Junqueira Filho, juiz do caso, arquivou o processo e disse que não seria aceitável tolerar a presença de homossexuais no futebol brasileiro e que isso poderia prejudicar o pensamento dos times. 

"Isso, sim, me deixou muito triste porque em nenhum momento eu senti que aquilo era uma coisa normal. Era uma coisa muito pejorativa. Isso foi muito ruim não só para mim. Ser homossexual não é demérito para ninguém, e no futebol não deveria ser um assunto tão polêmico. Nunca deixei que isso atrapalhasse o que eu quero para minha vida, não vai ser uma frase, uma palavra, uma discussão ou um cara babaca que tentou de forma vulgar maltratar uma classe… Pelo amor de Deus, quanto sofrimento tem na classe LGBTQIA+?", comentou ele sobre a situação.

O atleta disse que os ataques homofóbicos nunca prejudicaram seu desempenho em campo: "Depois de 2007, fui o melhor jogador do Campeonato Brasileiro na minha posição e fui para a seleção brasileira sem precisar de patotinha. Fui convocado por mérito.".

"Todo dia eu tinha que mostrar algo diferente, e isso sempre falei. Um erro meu era peso cinco. (As pessoas) me atacavam mesmo, parecia uma matilha de lobos. E eu sabia, nunca fui craque, nunca fui tecnicamente incrível, mas era inteligente de saber o que eu poderia fazer para sempre estar à frente dos demais. Eu voltava uma semana antes das férias, porque eu corria na ladeira por uma vaga no time, enquanto os outros estavam no plano. Eu chegava voando na pré-temporada. Na hora que os caras assustarem, eu já fiz cinco bons jogos, e aí não teria motivo para me tirar do time.", contou Richarlyson.