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LGBT / CINEMA

Thriller policial "Até o Cair da Noite" quase se transforma em um romance

Longa traz reflexão emocionante sobre amor, manipulação, identidade de gênero e crime

Ezatamentchy Publicado em 08/05/2024, às 10h02

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Thea Ehre oferece uma performance admirável - Divulgação
Thea Ehre oferece uma performance admirável - Divulgação
Por Eduardo de Assumpção*
"Até o Cair da Noite" (Bis ans Ende der Nacht, Alemanha, 2023)
O policial gay Robert (Timocin Ziegler) tem que interpretar o papel de amante da mulher trans Leni (Thea Ehre), recém-saída da prisão. Os investigadores disfarçados devem invadir o acesso ao traficante Victor (Michael Sideris). Leni faz o papel de abrir as portas para Robert. Ela se chamava Lennart e trabalhava para Victor. 
O golpe pode dar certo, mas apenas se Robert mantiver suas emoções sob controle. Porque esse é o difícil para ele nessa missão: ele já foi apaixonado por Leni, antes da transição. E os sentimentos continuam a arder.
Na verdade, eles ardem tanto que o thriller policial, do diretor Christoph Hochhäusler, quase se transforma em um romance. Não fosse o mundo quebrado de falsas promessas, jogo duplo e uma máscara por trás da qual as fronteiras entre sentimentos reais e fingidos são irremediavelmente borradas. 
A cinematografia, de Reinhold Vorschneider, sempre reserva surpresas, que deliberadamente transcendem o realismo do ambiente sombrio, sujo e áspero do lugar. Eles transmitem um romantismo que também tem seu lugar no mundo pop da trilha sonora: kitsch, mas também de alguma forma sedutora nos múltiplos contrastes do filme. 
O cenário é Frankfurt, com suas contradições de miséria e glamour, ponto de drogas e torres bancárias. Onde o clássico thriller policial se transforma em melodrama, Christoph Hochhäusler parece se ligar à arte de estilização de Rainer Werner Fassbinder, especialmente com seu filme "Num Ano de 13 Luas" (1978), no qual uma mulher trans também desempenha o papel principal em um ambiente criminoso.
Em particular, o personagem do policial  Robert parece estar preso internamente. Na verdade, ele só consegue amar Lennart, com Leni ele só consegue se render com o freio de mão ligado.
Thea Ehre oferece uma performance admirável na mistura de vulnerabilidade e força interior. A atriz austríaca e ativista trans usa seu primeiro grande papel no cinema para fazer uma aparição intensa. Premiada com o Urso de Prata, no Festival de Berlim, Thea Ehre é a potência deste complexo melodrama policial. Em sua figura, os fios soltos se juntam novamente.
Com uma trama complexa, edição confiante e imagens atmosfericamente impressionantes, o diretor consegue criar uma reflexão emocionante sobre amor, manipulação, identidade de gênero, crime e, acima de tudo, confiança interpessoal. 

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib

Por Ezatamentchy