Máxima
Busca
Facebook MáximaTwitter MáximaInstagram MáximaGoogle News Máxima
LGBT / CINEMA

Daniel Ribeiro fala à Máxima com exclusividade sobre seu novo filme

“13 Sentimentos” é o aguardado novo longa do diretor do aclamado e premiado “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”

Ezatamentchy Publicado em 22/05/2024, às 11h03

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
"Trouxe momentos e sentimentos de diversos relacionamentos que vivi." - Divulgação
"Trouxe momentos e sentimentos de diversos relacionamentos que vivi." - Divulgação
Por Eduardo de Assumpção*
Ainda em clima de Dia dos Namorados, no dia 13 de junho, chega aos cinemas “13 Sentimentos”, o aguardado novo longa-metragem de Daniel Ribeiro, diretor do aclamado e premiado “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”. Com lançamento também garantido lá fora, com o título de “Perfect Endings”, o filme faz parte de uma trilogia e chega às telonas pela Vitrine Filmes.
A obra faz uma reflexão sobre relacionamentos modernos e apresenta Artur Volpi no papel de João, um jovem cineasta que, após o fim de um relacionamento de uma década, mergulha no mundo dos aplicativos de namoro. A trama se desenrola, quando ele conhece Vitor (Michel Joelsas), desencadeando uma nova paixão que João meticulosamente tenta moldar, como se estivesse dirigindo um filme.
Artur Volpi (esq.) é João e Michel Joelsas é Vitor
Seu longa de estreia, “Hoje eu Quero Voltar Sozinho”, é grande sucesso de público e crítica, além de ter recebido o Teddy, no Festival de Berlim. Isso aumenta a pressão e as expectativas para um novo projeto?
Acho natural que haja uma expectativa, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que não poderia nem deveria recriar algo que já tinha feito antes. Isso acaba sendo libertador. Além disso, os filmes são de gêneros distintos. "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" é um coming of age, um filme sobre amadurecimento, enquanto '13 Sentimentos' é uma comédia romântica. O que une os dois filmes é o retrato de personagens gays lidando com conflitos universais, com os quais todos os públicos podem se identificar.
De lá para cá, houve um hiato de 10 anos, mas que você trabalhou em outros projetos, por que esse longa chega agora?
Foi uma questão de financiamento e da pandemia. Em 2016, tínhamos uma pequena verba, mas precisávamos de mais para conseguir fazer o filme. Logo depois, vieram anos mais complicados para a cultura e o cinema, seguidos pela pandemia. Quando as coisas começaram a melhorar, decidimos fazer o filme com os recursos que tínhamos disponíveis. O Telecine e o Canal Brasil entraram como coprodutores pouco antes de começarmos a filmar, o que também nos ajudou. Ainda assim, o orçamento foi muito pequeno para um longa-metragem, mas conseguimos reunir uma equipe e um elenco criativos e dispostos a fazer esse filme em um tempo curto com os recursos que tínhamos disponíveis.
Além de encontrar os perfis ideais para cada personagem, era necessário equilibrar a química entre todos eles.
“Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” é baseado num curta. Onde nasceu “13 Sentimentos”?
Não posso revelar muito, pois a resposta está no próprio filme. Eu queria falar sobre esse momento de recomeço pós-término de namoro. Em 2016, terminei um relacionamento de 10 anos, e essa fase da vida, embora difícil, é repleta de dilemas, conflitos e tramas, tornando-se perfeita para ser transformada em roteiro. O personagem João compartilha dessa visão comigo.
"Conseguimos reunir uma equipe e um elenco criativos e dispostos a fazer esse filme em um tempo curto com os recursos que tínhamos disponíveis."
O  filme trata de uma trama mais madura, sexy, e onde o protagonista é um cineasta. Existe um tom autobiográfico? E para além de experiências pessoais, o que você traz de novo?
Começamos o filme com a mensagem "baseado em sentimentos reais". Acho que isso sintetiza a essência do filme. Embora contenha muitos elementos da minha vida, não é exatamente autobiográfico. Trouxe momentos e sentimentos de diversos relacionamentos que vivi, misturei com ideias ficcionais e tentei costurar tudo em um roteiro que fizesse sentido para abordar o recomeço após o término de um longo namoro. E uma curiosidade, misturando os universos dos meus filmes: gravamos uma cena de festa no estúdio fotográfico de Fábio Audi, que interpretou Gabriel em "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho". Nesta cena, ele fez uma participação especial.
Como você avalia o atual cenário audiovisual brasileiro? Na sua opinião, as tramas voltadas ao público LGBT+ estão ganhando maior visibilidade?
Acho que a demanda do público LGBTQIAP+ resulta em uma maior e mais diversa quantidade de histórias com personagens da comunidade. Apesar do preconceito que ainda persiste, há um grande público que acolhe e celebra essas narrativas. Além disso, temos uma quantidade significativa e diversa de artistas LGBTQIAP+ produzindo audiovisual no Brasil. Estamos finalmente retratando toda a diversidade que existe dentro da sigla cheia de letras. Esses filmes não apenas circulam no Brasil, mas também alcançam um público internacional. Um exemplo é o Teddy Awards, o prêmio para filmes LGBT do Festival de Berlim. Nos últimos 10 anos, quatro produções brasileiras foram premiadas com o Teddy Award.
Quais as suas principais referências cinematográficas?
Entre muitos outros, destaco "Happy Together" de Wong Kar Wai; “Má Educação” de Almodóvar; “Homme au bain", do Christophe Honoré; "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças", de Michel Gondry; "Antes do Pôr do Sol", de Richard Linklater; "Encontros e Desencontros", de Sofia Coppola; e "Hedwig and the Angry Inch", de John Cameron Mitchell.
O que une os dois filmes é o retrato de personagens gays lidando com conflitos universais.
Quais as principais influências de ‘’13 Sentimentos’’?
Algumas das influências incluem: a idealização do passado em "Meia-Noite em Paris", de Woody Allen, e a mistura entre realidade e ficção vista em "Bergman Island", de Mia Hansen-Løve.
Você pode descrever um pouco o processo de rodagens?
"13 Sentimentos" teve um set de filmagem muito corrido devido ao número limitado de dias de filmagem e ao roteiro repleto de diálogos. Por isso, nos preparamos intensamente para as filmagens. Com cenas longas e cheias de texto, realizamos muitos ensaios para garantir que o elenco estivesse em perfeita sintonia no set. Além disso, o filme possui muitas locações, o que nos fez mudar de cenário quase diariamente durante as duas primeiras semanas, representando um desafio adicional para a equipe.
Artur Volpi e Michel Joelsas protagonizam. Como foi a escolha do elenco?
Além do Michel, que interpreta Vitor, nós temos muitos outros rapazes que João, interpretado por Artur Volpi, conhece nos aplicativos de relacionamento. Bruno Rocha, Igor Cosso, Sidney Santiago Kuanza e Cleomácio Inácio passam de alguma maneira pela vida de João. Além desse universo romântico que é muito diverso, nós também temos os dois melhores amigos, Alice (Julianna Gerais) e Chico (Marcos Oli), a mãe Mara (Helena Albergaria) e Paula (Maite Schneider), a produtora que trabalha com João. Devido à grande quantidade de personagens, a escolha do elenco foi um processo longo e complexo. Além de encontrar os perfis ideais para cada personagem, era necessário equilibrar a química entre todos eles. O trio de amigos precisava transmitir a ideia de que se conheciam há anos, a relação entre mãe e filho precisava exalar ternura e a relação entre João e cada um de seus pares românticos precisava revelar uma atração convincente. Usando um dos símbolos do filme, foi tão complexo quanto montar um cubo mágico, mas no final, tudo se encaixou perfeitamente.
Casal enfrenta os dilemas de todo adulto gay
O filme faz parte de uma trilogia sobre relacionamentos e emoções, iniciada por “Hoje eu Quero Voltar Sozinh”. Como se chama a trilogia? A trilogia encerra com “Amanda e Caio”? Como estão os preparativos para esse desfecho e o que ele promete de mais inovador?
Não há um nome específico para a trilogia, mas ela retrata as diferentes fases de um relacionamento. É uma trilogia temática, composta por filmes diferentes com personagens distintos e não segue uma ordem cronológica. A intenção sempre foi lançar "Amanda e Caio" após "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho", mas devido a questões de financiamento e cronograma, "13 Sentimentos" acabou sendo produzido primeiro. Em "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho", mostramos um casal se conhecendo e se apaixonando. Em seguida, temos "Amanda e Caio", que acompanha um casal enfrentando uma crise após anos de namoro. E terminamos com um recomeço em “13 Sentimentos”, onde um rapaz que terminou um relacionamento de 10 anos precisa entender melhor como é ser sozinho e solteiro depois de tanto tempo sendo a metade de um casal. 
*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib