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LGBT / LITERATURA

Livro resgata a vida de Miriam Batucada, ícone andrógino do samba

Nova biografia lança luz sobre a carreira e a vida pessoal de Miriam Batucada, destacando sua luta e legado na música brasileira

Ezatamentchy Publicado em 28/06/2024, às 09h28

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Miriam deixou um legado musical que inclui dois discos solo - Reprodução
Miriam deixou um legado musical que inclui dois discos solo - Reprodução
Miriam Batucada, que brilhou nas décadas de 1960 e 1970, teve uma carreira marcada pela inovação e ousadia. Conhecida por sua imagem andrógina e presença vibrante nos festivais de música da TV Record, a cantora de samba viu seu sucesso minguar, culminando em um trágico ostracismo. Falecida aos 47 anos de um infarto fulminante, seu corpo foi encontrado 20 dias após sua morte, em completo anonimato.

Agora, a vida e obra desta artista singular são resgatadas em "A História Incompleta de Miriam Batucada". Este novo livro, com quase 400 páginas, é acompanhado de um disco póstumo, reunindo 18 faixas compostas por Miriam e interpretadas por artistas como Zeca Baleiro, Maria Alcina, Bluebell e Paula Sanches.

Segundo Ricardo Santhiago, doutor em História Social pela USP e autor do livro, a obra busca imaginar um futuro diferente para Miriam, destacando sua genialidade artística e as poucas oportunidades que teve em vida. Miriam era uma figura marcante na TV, participando de programas de calouros, esquetes com os Trapalhões, novelas e shows musicais. Apesar do reconhecimento inicial, sua carreira foi curta.

Santhiago descreve Miriam como uma mulher lésbica, possivelmente bipolar, e uma artista multifacetada: cantora, compositora, ritmista e comediante. Nascida no bairro da Mooca, em São Paulo, de uma família italiana, Miriam desafiava as normas da época, optando por ternos e calças em vez de vestidos. Apesar de nunca ter recebido um diagnóstico oficial, amigos próximos lembram de características que apontavam para um possível transtorno bipolar.

O livro também destaca como a orientação sexual de Miriam influenciou sua trajetória. Em um período em que a diversidade sexual não era discutida abertamente, Miriam afirmava seu interesse por "pessoas" e se identificava como "tão homossexual quanto todo mundo". Esse posicionamento em um país conservador contribuiu para seu apagamento midiático, como afirma Santhiago.

Miriam deixou um legado musical que inclui dois discos solo, vários compactos e uma participação em um álbum de Raul Seixas. Conhecida por suas apresentações ao vivo, seus shows eram uma mistura de sambas, batucadas, piadas e críticas ácidas à política e às celebridades. No entanto, a falta de oportunidades de gravação impediu que sua obra fosse mais amplamente conhecida.
Santhiago descreve Miriam como uma mulher lésbica, possivelmente bipolar, e uma artista multifacetada

Santhiago utilizou fontes de imprensa, arquivos pessoais e entrevistas com 80 pessoas para compor a biografia. Ele revela que, nos últimos anos de vida, Miriam se isolou após várias decepções amorosas, vivendo sozinha.

Quando seu corpo foi encontrado, Miriam segurava o gancho do telefone, sem conseguir pedir ajuda. O livro e o disco póstumo buscam reavivar a memória de Miriam Batucada, destacando sua importância e influência na música e na cultura brasileira.

"A História Incompleta de Miriam Batucada"
Preço: R$ 65 (372 págs.)
Autoria: Ricardo Santhiago
Editora: Popessuara

Por Ezatamentchy