Máxima
Busca
Facebook MáximaTwitter MáximaInstagram MáximaGoogle News Máxima
LGBT / LGBT

"Minha filha foi empurrada à marginalização", diz mãe sobre caso de transfobia em escola

Mãe de aluna trans denuncia caso de transfobia na Escola Estadual Professor Gabriel Ortiz, na zona leste de São Paulo

Máxima Digital Publicado em 16/10/2023, às 10h10

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
"Minha filha foi empurrada à marginalização", diz mãe sobre caso de transfobia em escola - Reprodução
"Minha filha foi empurrada à marginalização", diz mãe sobre caso de transfobia em escola - Reprodução

A bibliotecária Angélica Evangelista entrou em contato com o site iG Queer para denunciar um caso de transfobia contra a filha, uma jovem trans, de 17 anos, que enfreou o preconceito durante meses no ambiente escolar.

Tudo teve início em fevereiro desse ano quando Sarah, nome fictício para a filha de Angélica, assumiu sua identidade de gênero na escola onde estuda, a Escola Estadual Professor Gabriel Ortiz, na Penha, zona leste de São Paulo. 

Angélica, que sempre apoiou a filha, estava determinada em garantir que a filha se sentisse segura e respeitada no ambiente escolar. Mas, apesar dos esforços, a jovem enfrentou uma série de desafios após sua identidade de gênero.

Em um dos casos, a professora de português, se recusava a tratar a aluna pelo pronome feminino e a chamada pelo nome de registro, expondo Sarah ao constrangimento em sala de aula.

Além da professora, a adolescente enfrentou hostilidade por parte dos colegas de classe, alguns não aceitavam sua identidade de gênero e contestavam quando ela usava o banheiro feminino. 

Sarah também escutou comentários ofensivos como "vira macho" ou "deixa de ser bichinha", afetando a saúde mental da aluna. 

Com a persistência dos comentários transfóbicos, em março Angélica foi até a escola conversar com a direção e afirmou que as queixas foram registradas de maneira incompleta pela coordenadora pedagógica, chamada Patrícia, que afirmou que não era necessário detalhar toda a situação.

Em abril, a bibliotecária retornou a escola para conversar com a diretora, Dalila Viana, que revelou não ter conhecimento das queixas anteriores, o que deixou Angélica "incrédula" e, dessa vez, ela insistiu em ter um registro das reclamações.

Apesar das questões com os outros estudantes e do banheiro feminino tivessem sido resolvidas, a professora de português continuava com as falas transfóbicas e a escola parecia relutante em tomar medidas significativas.

Angélica disse que a escola ofereceu respostas rasas como “precisamos de tempo para orientar os professores” e “sua filha precisa ser forte” e, segundo ela, a direção escolar não demonstrou interesse para que os direitos de Sarah fossem respeitados.

Em junho, a situação se agravou, já que Sarah começou a se automutilar, a pressão psicológica e a transfobia que sofria na escola, levou a jovem a um estudo de profundo sofrimento e, nesse mês, ela não foi a escola durante todo o mês.

"Minha filha estava em uma situação tão difícil que ela recorreu à automutilação. Isso partiu meu coração", desabafou Angélica.

Com esses episódios, Sarah, que também trabalhava em meio período, foi afastada de seu emprego e foi internada em uma clínica psiquiátrica por conta de sua saúde mental debilitada. 

Sarah foi internada no final de julho e segue em tratamento até os dias atuais.  

“No meio destes acontecimentos eu cheguei a enviar um e-mail para a direção escolar com cópia para a diretoria de ensino”, informou Angélica, que se surpreendeu ao descobrir que a matrícula de sua filha havia sido cancelada por abandono escolar. 

Segundo a Lei nº 7.819/2023, escolas públicas devem notificar ao conselho tutelar faltas de alunos superior a 30% das aulas mensais, o que não foi feito em nenhum momento, segundo Angélica. 

"Minha filha não abandonou a escola, ela foi empurrada para a marginalização, para o abandono escolar, pela direção, pela coordenação pedagógica e pela professora e hoje está numa clínica psiquiátrica pelo simples fato de ser uma garota trans", disse.

“Quando fui realizar novamente a matrícula da minha filha e pedi para ser atendida pela direção ou coordenação, elas prontamente recusaram", revelou.

“A direção não a respeitou e agora não sabem se ela vai poder concluir o terceiro ano do ensino médio porque ela ‘abandonou a escola’”, continuou Angélica.

“Para uma instituição que em meses não conseguiu cumprir com seus deveres e compromissos em relação a uma jovem trans, me parece que foi muito fácil optarem por cancelarem sua matrícula após 15 dias úteis de faltas", completou.

Angélica ainda disse que a diretora afirmou que “o Estado disponibiliza material para essas pautas (LGBTQIAP+), mas que essas pautas não podiam acontecer ‘fora de hora’”;

“Quando eu questionava quando seria a hora ela não sabia responder”, declarou ela.

Após cobranças da bibliotecária para Sarah não perder o ano escolar, a escola apresentou uma solução para o caso da aluna, permitindo que ela fizesse os trabalhos escolares enquanto estivesse internada.

No entanto, Angélica afirmou que a escola levou muito tempo para tomar essa decisão: “Se a escola tivesse me falado que minha filha teria que fazer lição do hospital, ainda na primeira quinzena de setembro, eu acreditaria que eles estavam tentando respeitar os direitos da minha filha, mas, a escola só me respondeu com um mês e uma semana”.

“Foram 37 dias para a escola junto a diretoria de ensino saber o que responder sobre um caso simples de afastamento de uma aluna. E foi esta mesma escola que levou 15 dias, exatos 15 dias úteis, para cumprir com a displicência de cancelar a matrícula da minha filha”, finalizou. 

A Escola Estadual Professor Gabriel Ortiz foi procurada pelo iG Queer, mas não se pronunciou sobre o caso.