O que é carga mental da mulher? - Freepik
Dia da Igualdade Feminina

Carga mental: Por que as mulheres estão cada dia mais cansadas?

A psicóloga Nina Taboada e a escritora Debora Camargo evidenciam este trabalho invisível da mulher

Ivana Guimarães com supervisão de Marina Pastorelli Publicado em 26/08/2020, às 20h10

Vinte e seis de agosto foi escolhido como o Dia da Igualdade Feminina, data que surgiu nos Estados Unidos há exatos 100 anos, quando foi aprovada a 19ª emenda da constituição americana que dava às mulheres o direito ao voto.

Mas para que essa igualdade seja completamente alcançada algum dia, muitas coisas ainda precisam mudar, como por exemplo a questão do trabalho. As mulheres estão sempre realizando tarefas visíveis e invisíveis que as deixam exaustas. E como elas podem lutar por seus direitos se estão sempre cansadas?

Esse acúmulo de funções é chamado de carga mental feminina e para debater esta questão, nós, da Máxima Digital, convidamos a psicóloga clínica Nina Taboada e a escritora Debora Camargo.

 

Afinal, o que é carga mental da mulher? "Ver o que falta na casa para por na lista do mercado, organizar a limpeza, ver a previsão do tempo para saber se lava ou não a roupa, lembrar quando é a próxima visita ao pediatra e o aniversário da sogra, decidir quais serão as refeições do dia, que horas deve começar a cozinhar e se tem todos os ingredientes à disposição ou até mesmo conseguir delegar atividades são exemplos comuns e diários de um trabalho constante, exaustivo e difícil. Carga mental é toda uma série de atividades mentais relacionadas com o planejamento, organização e tomadas de decisões referentes ao gerenciamento de uma casa e de uma família. Como é um trabalho invisível, é comum que não seja valorizado ou sequer notado tanto por quem o executa (na maioria das vezes as mulheres), quanto por aqueles que estão passivamente sob a influência dele", explicou a psicóloga.

"Lembro de ouvir meu pai falar quando eu ainda era criança que se eu não arrumasse meu quarto ninguém ia gostar de mim e eu nunca iria casar. Ao mesmo tempo ele se incomodava quando o meu irmão lavava a louça ou arrumava a casa com a minha mãe. Desde pequenas passamos por um treinamento brincando de casinha para que sejamos aptas a trabalhar como gerentes da nossa casa. Gerenciando esse trabalho acabamos ocupando o nosso espaço mental, o que faz com que estejamos sempre exaustas", afirmou Debora.

Falar desse tema é tratar da diferença entre divisão de tarefas e divisão de responsabilidades. "Uma tarefa é um ato a ser executado e que já foi pensado, organizado e decidido por alguém. Por exemplo, ir ao mercado para comprar 10 itens já descritos em uma listinha ou levar o filho para a vacina são tarefas que podem (e devem) ser divididas. Já a divisão de responsabilidades significa dividir não apenas a execução de uma tarefa, mas principalmente todo o trabalho cognitivo prévio. Para que uma lista de supermercado exista, alguém precisou parar, observar o que falta na casa, sentar e escrever. Para levar o filho para a vacina alguém precisou estar atento ao calendário de vacinação, saber qual melhor dia para levar a criança, avaliar se precisa falar com o pediatra e aí partir para a ação. Dividir as tarefas significa que alguém executa o que o “gestor manda”. Se divido a responsabilidade, gerencio, organizo e tomo decisões sobre determinado tema, não espero alguém decidir ou pensar por mim", esclareceu Nina.

Mãe de três crianças pequenas, Debora contou que a pandemia aumentou sua carga mental: "Antes da quarentena a minha rede de apoio era a escola. Então eu tinha 4 horas do dia com a mente livre para trabalhar, agora não tenho mais esse suporte. Mas eu observo que é sempre uma mulher que pula na frente da divisão da carga mental. A professora, a babá, a empregada doméstica, nossas mães e sogras. Eu acredito que a única forma de ter uma rotina mais saudável é com os homens assumindo a parte deles, já que vejo que estamos em capacidade máxima."

E quais as consequências dessa cultura da mulher guerreira que dá conta de tudo? "Frustração e aumento de ansiedade e sintomas relacionados à tristeza e à depressão. A cultura da mulher “guerreira” é exatamente o que o nome diz: a quase imposição com reforço social de que a mulher deve viver em estado de guerra, precisando lidar com uma série de demandas pessoais, profissionais, familiares, sociais e conjugais, cuidando para não sucumbir no processo. É uma pressão cruel, pois é um lugar impossível de ser atingido, e quando a mulher não consegue tal façanha, por motivos óbvios, recai nela um senso de culpa e de fracasso pessoal, como se coubesse a ela conseguir atingir o inatingível. A mulher tende a questionar a si própria, e não todo um sistema que opera para ela estar nesse lugar de eterna luta e frustração", disse Taboada.

Para a escritora, é preciso praticidade para resolver essa situação: "Uma dica é fazer uma tabela desmembrando os processos que você já faz e o número de horas que gasta, para apresentar e provar que o trabalho da carga mental e do gerenciamento da casa é real e palpável. A partir disso você pode começar a divisão dessa função e não aceitar não como resposta, né? Brigar quando for preciso para que pequenas revoluções domésticas aconteçam. Se você tem uma família segura e que te ama, precisa levar esse diálogo sobre como eles estão acabando com sua vida. E casos eles não estejam abertos a ouvir isso, tem alguma coisa errada."

"A responsabilidade pela manutenção de um lar é de todos que habitam nele. Tomar consciência das diversas etapas que envolvem a gestão da casa e separar, amorosamente, o que será de cada um é um passo importante para a autonomia da mulher e também do(a) seu(sua) parceiro(a). Esse é um assunto delicado, pois envolve crenças sobre o papel da mulher, do homem e do dinheiro nas relações. A carga mental é um trabalho exaustivo, importante e não remunerado, o que coloca muitas vezes as mulheres em situação de vulnerabilidade e passividade. Dividir as responsabilidades não significa que vai ser tudo meio a meio: é preciso avaliar contexto, possibilidades e necessidades. A partir dessa tomada de consciência e de respeito próprio, partir para o diálogo e solução de problemas", concluiu a psicóloga.

 

 

Dia da Igualdade Feminina Carga mental da mulher

Leia também

Por onde anda Maria Luísa Mendonça, a Buba da primeira versão de Renascer?


The Masked Singer Brasil: VAZOU! Saiba quem será o vencedor da temporada


Renascer: Furiosa ao descobrir traição, Eliana vai atrás de Buba


Bom Dia, Verônica: Cena íntima de Reynaldo Gianecchini e Rodrigo Santoro viraliza na web


Renascer: Traída, Eliana faz acusação sobre Buba


Renascer: José Bento dá show de homofobia e é corrigido por José Venâncio