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LGBT / Paternidade Transgênero

Conheça Roberto Bete, um pai que gerou o próprio filho: "Uma desconstrução"

Roberto Bete é pai do Noah e compartilha seu dia a dia nas redes sociais

Máxima Digital Publicado em 16/08/2023, às 14h20

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Conheça Roberto Bete, um pai que gerou o próprio filho: "Uma desconstrução" - Instagram
Conheça Roberto Bete, um pai que gerou o próprio filho: "Uma desconstrução" - Instagram

Roberto Bete acumula 145 mil seguidores nas redes sociais e compartilha um pouco de seu dia a dia com seu filho Noah, de um ano. Ele é um homem transgênero e se define como um pai parturiente, o que significa que ele gerou o pequeno durante os nove meses da gestação.

Em entrevista a jornalista Marina Dayrell, do Buzzfeed, Roberto contou que sempre teve o sonho de ser pai, mas nunca tinha pensado em gestar o próprio filho até conhecer Erika Fernandes, sua ex-esposa e mãe de Noah.

Erika é uma mulher transgênero e, assim como ele, fazia tratamento com hormônios há anos e, para tentar engravidar, é necessário interromper. Então Erika interrompeu a progesterona e com o bloqueador de testosterona para voltar a produzir espermatozoides e Roberto parou com a testosterona para voltar a ovular. 

Após um ano e meio o casal conseguiu engravidar e Erika teve a oportunidade de amamentar Noah após realizar um tratamento hormonal que a permitiu o aleitamento.

"Eu quis ser pai a vida inteira, por vários motivos. Muito porque o meu pai se separou da minha mãe quando eu tinha nove anos e, com isso, ele foi muito ausente. A falta dessa figura paterna me despertou essa vontade de querer ser pai também e de ser muito bom, sabe? Eu queria suprir essa falta de representatividade paterna, dando isso para o meu filho", disse ele.

"Eu sou taurino também, então sou muito raiz, muito tradicional. Gosto desse negócio de ter a família em casa no domingo, fazer comida para todo mundo. Gosto de casa cheia, de família, de criança correndo pela casa. E sempre tive esse desejo mesmo de ser pai, de ser avô, de ser bisavô, e por aí vai", continuou.

Sobre a decisão de gestar Noah, Roberto falou: "A questão de gestar o meu próprio filho já foi diferente, né? Foi uma desconstrução que levou bastante tempo. Começou com o meu relacionamento transcentrado, ou seja, uma relação entre duas pessoas trans, independente do gênero".

"Foi a partir daí que eu comecei a construir essa ideia de que eu tenho um útero e de que eu poderia gerar o meu filho e isso não mudaria quem eu sou, não mudaria o meu gênero, não mudaria a minha masculinidade", acrescentou.

"Isso foi recente, em 2020, quando eu conheci a Erika. E daí foi um processo de entender o meu corpo, de aceitação do meu corpo. Foi depois desse relacionamento que eu comecei também a gostar do meu corpo, porque antes disso eu não aceitava, tinha muita disforia (insatisfação e angústia com o próprio corpo) e então eu achava que tinha nascido num corpo errado", disse.

"E aí depois dessa relação, comecei a entender que não, que o meu corpo é um corpo trans e que está tudo bem", pontuou.

"Antes, eu me relacionava com mulheres cisgênero (pessoas que se identificam com o gênero atribuído a elas no nascimento). E daí a ideia de ser pai era que a minha companheira iria gerá-lo, né? Antes disso, nunca tinha passado pela minha cabeça que eu iria gerar o meu filho", continuou.

Roberto também falou sobre tentar ser um pai ativo e presente: "A paternidade ativa significa basicamente ter um pai ativo dentro de casa, que participa de todas as atividades com o filho. Todas mesmo, desde a parte operacional, que é nos cuidados diários, quanto na parte afetiva, criando laços amorosos e memórias afetivas, e dando apoio emocional"

"Não só o lado financeiro, porque a gente foi criado nessa construção social de que o homem é quem provê, quem vai para a rua ganhar dinheiro e sustentar a família", afirmou.

"Só que a gente identifica que, ao longo da vida, não ter essa paternidade ativa, efetiva e afetiva é uma coisa muito problemática. Então, a gente está tentando desconstruir e transformar em um elo emocional afetivo", explicou.

"Hoje, eu cuido do Noah com guarda compartilhada com a mãe dele, então ele fica uma semana comigo e uma semana com ela. Essa foi uma forma que a gente achou de estar sempre presentes na vida dele. Nós moramos perto, então, mesmo quando é a semana dela, eu pego ele se ela precisar, eu vou ver ele, ela também vem aqui na minha semana, a gente faz programas juntos, mesmo depois da separação", continuou.

"Porque a gente sabe o quanto é importante a presença dos dois na primeira infância dele, nessa construção da personalidade mesmo, dele como pessoa", falou.

O criador de conteúdo comentou sobre como faz para estabelecer limites entre a paternidade e ser o Roberto: "Até pouco tempo atrás era bem difícil fazer essa separação, porque desde que eu engravidei e ele nasceu, eu vivi só a paternidade, então ser o Roberto não era uma coisa importante para mim."

"Viver a paternidade estava sendo a coisa mais importante. E aí eu comecei a perceber que eu tava me deixando um pouco de lado e vivendo só a paternidade, sendo que eu também sou o Roberto, né?", comentou.

"Foi quando virou essa chavinha e eu entendi que, tá bom, eu sou pai do Noah, vou continuar sendo, mas eu também preciso viver a minha individualidade, preciso voltar a ter a minha vaidade, a ter meu momento, me reconectar comigo mesmo. Então, hoje, eu costumo fazer isso quando ele está na casa da mãe dele e eu estou sozinho aqui. Ainda é difícil porque a gente fica se julgando, pensando 'ai meu Deus, eu estou aqui na balada, tô no barzinho'", falou.

"É um exercício que eu venho fazendo para conseguir ver prazer em outras coisas quando não estou com ele, porque eu e ele nos tornamos uma coisa tão junto que é difícil ver prazer em coisas fora do contexto do Noah, sabe? Então, eu venho praticando, mas às vezes eu me perco, ontem eu deixei ele com a mãe e fiquei aqui sentado, olhando pela janela, sem saber o que fazer", pontuou.