Máxima
Busca
Facebook MáximaTwitter MáximaInstagram MáximaGoogle News Máxima
LGBT / STREAMING

Filme que debate o aborto no Brasil conservador chega às telinhas

Premiado em Cannes, "Levante" está no Globoplay e no Telecine

Ezatamentchy Publicado em 26/06/2024, às 09h26

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Sofia (Ayomi Domenica Dias), de 17 anos, parece ter tudo certo - Divulgação
Sofia (Ayomi Domenica Dias), de 17 anos, parece ter tudo certo - Divulgação
"Levante" (Brasil/Uruguai/França, 2023) Um espírito potente  e combativo permeia, a estreia de Lillah Halla, uma celebração da irmandade queer diante do conservadorismo brasileiro. Sofia (Ayomi Domenica Dias), de 17 anos, parece ter tudo certo. Como uma talentosa jogadora de vôlei, ela chama a atenção de um olheiro que lhe oferece uma bolsa patrocinada no Chile.

Além disso, um relacionamento próspero se desenvolve com sua companheira de equipe, Bel (Loro Bardot). No entanto, a sorte muda  quando Sofia descobre que está grávida. Ela decide interromper a gravidez, mas se depara com a dura realidade de que o aborto é ilegal no Brasil.

O contexto do time, um espaço majoritariamente "queer", com jogadoras trans e não-binárias , traz uma carga especial para o trauma de superar uma gravidez indesejada. Quando um grupo de extrema-direita, apoiadores de Bolsonaro, toma conhecimento de sua situação por meio de fofocas que circulam no bairro, a equipe se torna um núcleo de resistência feminina, um espaço de defesa mútua para uma série de questões específicas de gênero.

João (Rômulo Braga), o pai de Sofia, é apicultor. Através de sua profissão, ele encarna a ameaça inexplicável da destruição da natureza pelo governo brasileiro. Uma visão de um país imposto a mentes e corpos que faz da situação em Sofia uma questão puramente política.

O protesto contra o controle policial de corpos femininos e não-binários é relevante, comovente e empoderador, não importa o quão indigesto seja. E apesar dos elementos sombrios e frustrantes do filme, a estreia de Halla é um primeiro jogo maduro e agridoce em quadra.

Cheio de frescor, “Levante" é como seu título: um convite à revolta contra a injustiça de um Estado que interfere na intimidade das mulheres. O peso do bolsonarismo obviamente pende no filme que é uma reação epidérmica à sua intolerância. No entanto, ninguém carrega o rótulo de vítima.

Se os corpos nus nos chuveiros expõe sua diversidade para a câmera, sua presença não é objeto de debate. Nem a proximidade física entre Sofia e a melhor amiga Bel. O reconhecimento da comunidade LGBTQIA+ em toda a sua diversidade é uma necessidade natural, sem alarde ou reivindicações. Nesta atmosfera de tolerância óbvia, onde ninguém é julgado pelo seu gênero, a pressão do Estado a que Sofia está sujeita parece ainda mais brutal e intolerável.

Contrafogo a um Brasil dominado pelo populismo, “Levante” se ergue com energia comunicativa contra a pressão de uma potência que quer impor uma visão religiosa retrógrada a toda a população. Embora o desgoverno já tenha deixado o poder, o filme de Lillah Halla é uma prova do impacto de seu tempo no país. Uma cicatriz profunda que funciona como um alerta e uma mensagem de esperança. Numa democracia, como no voleibol, todas as vitórias podem ser postas em questão.

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib

Por Ezatamentchy