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“Sífilis tem cura ou vou precisar tomar remédio a vida toda”?

“Ao fazer um exame de rotina descobri que estou com sífilis. Há chance de cura ou o tratamento vai ser para sempre?” P.L., São Paulo (SP)

Raquel Maldonado Publicado em 27/01/2018, às 11h30 - Atualizado em 22/08/2019, às 01h40

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A melhor forma de se proteger é usar camisinha sempre! - iStock
A melhor forma de se proteger é usar camisinha sempre! - iStock

Antes de responder a sua pergunta vou dar algumas informações importantes sobre a sífilis. Ela é uma doença infectocontagiosa causada pela bactéria Treponema pallidum, sendo transmitida principalmente por via sexual. Vale dizer ainda que estamos vivendo hoje no Brasil uma epidemia, segundo o Ministério da Saúde. Considerando a forma de transmissão, podemos atribuir o aumento dos casos da doença, em parte, à queda no uso dos preservativos, principalmente pelos adultos jovens, na faixa dos 20 aos 24 anos de idade, e que não vivenciaram o impacto do surgimento da epidemia da aids nos anos 80. Há que se considerar também a melhor notificação de casos novos de sífilis no Brasil a partir de 2010, quando ela se tornou uma doença de notificação compulsória.

Agora, respondendo a sua pergunta: sim, a sífilis tem cura. O tratamento é feito com antibióticos, especialmente penicilina. Para as pessoas alérgicas ao medicamento, opta-se pela dessensibilização à droga, já que não existem outros antibióticos capazes de eliminar essa bactéria. Na dessensibilização, o médico oferece doses mínimas do remédio e vai aumentando gradativamente até que o organismo do paciente se torne mais tolerante à droga.

A doença pode se manifestar de formas diferentes dependendo do período de evolução. Podemos dividir suas manifestações em três estágios:

Estágios primário e secundário (ou sífilis adquirida recente): as manifestações ocorrem de 21 dias até 10 semanas após a contaminação. Os sintomas são mais evidentes e o risco de transmissão é maior. Eles surgem como lesões na região genital, que desaparecem espontaneamente após quatro semanas, mesmo sem haver tratamento. Depois desse período, podem surgir novas lesões de cor rosada, parecidas com sarampo, que, quando não tratadas, podem produzir queda capilar, verrugas planas na região genital e perianal, inchaços em gânglios linfáticos, feridas nas palmas das mãos e plantas dos pés, manchas e feridas na boca.

Estágio terciário ou latente tardio: pode ocorrer de 2 a 40 anos após a contaminação, depois de um período praticamente assintomático, em que a bactéria fica latente no organismo. Geralmente ocorre porque o diagnóstico não foi realizado ou feito de forma inadequada, permitindo que a doença retorne de forma mais agressiva, provocando nódulos graves na pele, comprometimento dos ossos, do sistemas cardiovascular e nervoso central, podendo resultar em complicações graves como insuficiência cardíaca e até a morte.

Um dos principais entraves para o tratamento é o fato de o diagnóstico ser complicado, pois além de a lesão ser indolor, ela pode desaparecer sem que seja necessário nenhum tratamento, o que dificulta a suspeita da doença e, consequentemente, que o indivíduo busque o correto diagnóstico e tratamento.

 Lembrando que a falta de diagnóstico também aumenta as chances de transmissão congênita (a mãe transmite a doença para o bebê na gestação), que é gravíssima, podendo resultar em aborto, más formações ósseas, inchaço em órgãos como fígado e baço, lesões nos rins, pneumonia, fissuras na boca e na pele, convulsões e até o óbito do bebê dentro do útero ou após o nascimento.

O uso de preservativo nas relações sexuais, o acompanhamento pré-natal com o diagnóstico precoce e, o tratamento adequado da gestante e de seu parceiro e o rastreio populacional para diagnóstico da doença, mesmo em suas fases assintomáticas, são fundamentais para conter a epidemia.

 Lidia Hyun Joo Myung, ginecologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.