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A importância dos erros na vida das crianças e como a família tem que agir na questão

Algumas crianças não conseguem conviver com suas falhas. Ficam tristes e ansiosas, o que pode trazer transtornos psicológicos. Cabe aos pais ajudá-las a aprender com os erros

por Carmen Cagnoni Publicado em 25/11/2016, às 13h11 - Atualizado em 22/08/2019, às 01h40

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Errar não faz mal - Shuttertstock
Errar não faz mal - Shuttertstock
Cerca de 40 estudos sobre comportamento infantil, feitos por diferentes universidades, foram recentemente revisados pela York St. John University, na Inglaterra. A conclusão? Alerta para o perigo de os pais serem inflexíveis diante dos fracassos das crianças. Pai e mãe muito exigentes consigo mesmos e com o desempenho dos fi lhos moldam um comportamento perfeccionista nos pequenos, favorecendo o desenvolvimento de ansiedade, depressão e até distúrbios alimentares. 

Errar faz parte da vida e deveria nos ensinar em que ponto temos que melhorar e fazer diferente. Mas nem sempre é assim que o erro é encarado. Por exemplo, quantas vezes, diante de uma frustração do seu filho, você foi sincera e levantou as falhas cometidas por ele? A maior dificuldade para os pais é apontar o que deve ser mudado sem baixar a autoestima da criança e, assim, é mais fácil jogar a culpa no dia desfavorável, em outra pessoa... O fracasso só serve de lição quando é assumido, questionado, pensado. 

E não simplesmente julgado como uma característica de quem é incapaz. “É natural do ser humano se sentir desvalorizado diante de um ato falho e temer uma avaliação negativa. Funciona assim: é muito mais importante fazer para ser aprovado pelas pessoas do que acertar para si mesmo. E isso, na infância, está intimamente ligado ao fato de as crianças desejarem agradar aos pais e aos amigos. Quando algo dá errado elas sentem o amor ameaçado, como se deixassem de ser merecedoras de afeto”, explica a psicóloga Juliana Martins (SP). A baixa tolerância à frustração tem sido amplamente discutida entre médicos e educadores, pois existe cada vez menos espaço para os erros e as diferenças de ritmos e talentos. A ideia de ser o mais inteligente e dedicado aluno é uma grande cobrança. “É comum percebermos crianças pequeninas ansiosas e preocupadas em corresponder aos objetivos colocados pelos adultos”, completa Juliana.

Só elogios?

No passado recente, alguns estudiosos defendiam o elogio como item primordial para a construção da personalidade. Hoje, sabe-se que é preciso encorajar, sim, mas sempre fazendo com que a criança reflita sobre os seus atos e como melhorá-los. O intuito é não despertar o medo de errar, mas aprender com o acontecimento. “A criança erra, sente raiva, tristeza e se frustra. Os pais precisam estar presentes nesse momento, mas sem interferir na sensação genuína que o fato desencadeia. Se fizerem isso estarão tirando da criança a oportunidade e a possibilidade de desenvolver habilidades para lidar com os fatos difíceis da vida. Estar junto significa ajudá-la a perceber e a entender o que sente, incluindo frustrações”, afirma a psicóloga infantil Daniella Freixo de Faria (SP). De acordo com a especialista, o papel da frustração no desenvolvimento infantil é primordial. “Ninguém gosta, mas faz parte. Ajuda a crescer, fortalece, gera persistência e resistência. Faz com que se dedique mais ao aprendizado e siga em frente. É de pequeno que se aprende a tolerar a insatisfação, e essa força vai se aperfeiçoando ao longo do tempo”, diz.

Sinal vermelho 

Atenção é fundamental para perceber as reações infantis, pois erro, vergonha e culpa tendem a andar juntos. “São sentimentos que ocorrem em diferentes níveis de intensidade. Em geral, filhos de pais com alto grau de exigência sofrem mais”, avisa a psicóloga e psicopedagoga Renata Yamasaki (SP). “Sem contar que a certa altura da vida toda criança descobre que admitir o erro significa pagar por ele. E isso pode fazer com que ela evite ao máximo essa conta, culpando o outro, por exemplo”, diz a expert. É bom ter isso em mente para ajudar a criança a aprender com o erro e não cometê-lo novamente. Isso evitará que ela se transforme num adulto incapaz de entrar em contato com emoções negativas, de aceitar a imperfeição e desenvolver a tolerância.

Olho no futuro 

O certo é que o pequeno cresça aberto para entender que os erros fazem parte da experiência humana. Dessa forma, ele se torna capaz de se auto-tranquilizar e validar os sentimentos negativos. “Os pais podem ajudar desenvolvendo a autocompaixão no filho, ensinando que é importante estar com a atenção direcionada ao presente, aceitando a experiência como ela ocorre, sem julgamentos ou críticas. Essa postura aumenta o bem-estar, a confiança e a conexão social e diminui as emoções ruins”, garante Renata. E é bom lembrar que, atualmente, a empatia é um comportamento bem-visto nas escolas e no mercado de trabalho. “Essa habilidade de se colocar no lugar do outro potencializa a capacidade de envolver e entender as pessoas que estão à volta. A criança se torna um adulto mais colaborativo, eficiente e persistente. Diante de um erro ela vai procurar estratégias para ir em frente e não desistir”, conclui.